O MEU RIMANCEIRO * O sobreiro
Não cedo porque não quero.
Vem do berço, e assim mantenho,
este princípio severo
de te dizer ao que venho.
Sou assim como o sobreiro
destas terras transtaganas:
por mais que sejas matreiro,
o meu tronco não abanas.
Sou produto deste chão,
as intempéries aguento:
do frio ao vento suão
e aos vorazes que sustento.
Sem cobrar nada a ninguém,
minha cortiça ofereço,
embora eu saiba haver quem
sempre a vende por bom preço.
E mesmo depois de morto,
serei fogo nas lareiras:
darei calor e conforto
durante noites inteiras.
Tudo dá a Natureza,
em fraterna comunhão:
se te falta o pão na mesa,
quem comeu o teu quinhão?
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 28 de Março de 2017.