Narrativa de uma tarde.
Ontem fui pra Itaburuna
Pra meu avô visitar
Ele estava doente
Sem poder se alevantar
Uma gripe tão danada
Que veio lhe aderrubar, hei!
O meu amor foi comigo
No camim me convidando
Pra passar no Iracema
Pra ver se já tá sangrando
Inda num tá mas as grotas
Muita água tão butando, hei!
Passei no seu Chico Novo
E cum ele prosiei
Mesmo na beira da estrada
No terreiro num incostei
No alpedre o Zé Rodrigues
Meio de costa avistei, hei!
Me alembrei mais o seu chico
Do Capim Puba a fazenda
Quando eu era minino
Andava naquela prenda
Na cada da tia Toinha
Coalhada era merenda, hei!
Falemos também do açude
Da água quele pegou
Já surrou o ano passado
Quando o inverno cortou
Porque já faz uns 10 anos
Que este açude sangrou, hei!
Retratei com o telefone
Os retratos da paisagem
O açude tá enchendo
Cobrindo toda pastagem
No pé da serra uma chuva
Molhado toda folhagem, hei!
Marchemos para as Marrecas
A minha mulher e eu
Num transporte pequenino
Em cima de dois pneu
Sempre grato ao nosso Deus
Que foi ele que me deu, hei!
Fizemos ua paradinha
Lá na casa da Tereza
O Bismaldo tava em casa
Se admirou com certeza
Disse quando o inverno é bom
Espanta toda pobreza, hei!
Eu disse tudo aparece
Quando o inverno é paidégua
Traz até o que não presta
Em cima de 7 légua
Quando a gente meno espera
Aparece um fíi dum’égua, hei!
Falemos do Iracema
Quinda tava pra sangrar
Do Marreca que sangrou
Já botando água pra lá
Eu disse que o Miraíma
Já estava a transbordar, hei!
Também falamos no Sandro
Um primo que foi por lá
O Roberto seu irmão
Entrou no palavriá
Também do arame farpado
Da cerca que foi tirar, hei!
Encontrei seu João Mombaça
Quando de lá eu saí
Parei no mei da estrada
E com ele distraí
Prosiemo um bucadim
Mas depois logo eu parti, hei!
Seu João agradeceu
A Deus o nosso sinhô
Que mesmo muito ocupado
Este ano se alembro
Mandando nosso inverno
Nossa sede aliviô, hei!
Eu tava muito apertado
Com vontade de mijá
Queria entrar no mato
E as calças arriá
Mas, a muié proibiu
Mandando eu aguentá, hei!
Finalmente nós cheguemo
Na casa do meu avô
Ele já tava de pé,
Graças a Deus levatô
Foi os remédios que dei
Com eles que melhorô, hei!
A conversa era de chuva
E do inverno pesado
Também falemo das planta
Que nós temos no roçado
Falemos dos gafanhatos
Que dexa tudo pelado, hei!
Eu disse pro meu avô
Que seu Estevão tá bem.
Está se recuperando
Da doença quele tem
Inda tá no hospital,
Mas pra casa logo vem, hei!
Eu também noticiei
Que quem tá no hospital
É o meu tio Zé Abade,
Parece quele tá mal
Mas, nossa grande esperança
É quele fique legal, hei!
Perguntei sobre sua gripe
Ele disse: melhorei
Graças a Deus e os remédios
Que agora há pouco tomei
Mas, indoje de manhã
Esmorecido fiquei, hei!
Conversava eu e ele
Minha muié e vovó
Falemos de tanta coisa
Me alembrei de caritó
Na volta nós encontremos
Um cachorrinho cotó, hei!
Enquanto a gente falava
Numa rede a balançar
Lá do mato uma cantiga
Vinha duma sabiá
Que cantava alegremente
Enfeitando este lugar, hei!
Vovô também conversou
Sobre as árvores quele tem
Ele rega essas arvores
Porque lhes quer muito bem
Pra cuidar de sua floresta
Num pede ajuda a ninguém, hei!
Ele disse o Pernambuco
Quantos municípios tem
São 185
Se alembrou disso também
Um a mais que o Ceará
Disso sabe muito bem, hei!
Depois nós se dispidimo
E vimo logo simbora
Defendendo dos buracos
Pela estrada a fora
Antes da noite chegar
Nós cheguemo onde nós mora, hei!
Isso aqui foi um resumo
Duma tarde de domingo
Que a gente deve fazer
Pra não ficar só dormindo
Visitar nossos parentes
Pois somos sempre bem vindo, hei!
Agora vou pro roçado
Visitar o meu feijão
Perguntar para os meu milho
Quando vai soltar pendão
E falar pros gafanhotos
Pra me deixarem de mão, hei!
Mais tarde pra Itapipoca
Hei de ir pra estudar
Eu ensino na Taboca
Um aconchegante lugar
Vou colher informações
Qué pros minino passar, hei!
Meus colegas da Taboca
Desde o Julio ao Zelador
Os meus alunos também
De quem eu sou professor
Eu suplico a vocês
Pra me aturar por favor, hei
(Veja em áudio, na seção: áudio)
Carlos Jaime. 27/03/2017