Um Deputado Amigo Meu
Um deputado amigo meu,
Que atua na esfera federal,
Falou-me de sua tristeza,
E de como ele passa mal.
Com o seu salário irrisório,
Levando a vida de simplório,
Em Brasília, nossa capital.
Disse-me: o meu sofrimento
O amigo não pode avaliar!
Quando recebo o meu salário,
São tantas as contas a pagar,
Que sou capaz de ficar maluco.
Logo penso: Como Nabuco
Aceitou ser parlamentar?
Imagine meu caro amigo,
Quão horrível é meu sofrer!
O que percebo nunca dar
Nem para sobreviver.
É muito pouco meu progresso,
Eu vou convocar o Congresso
Para meu salário rever.
Aquele amigo me convenceu,
Deixou-me bem penalizado;
Porque eu vivo numa boa
E bastantemente folgado.
Ao saber seu estado chorei,
Todas as suas contas paguei,
Para deixá-lo mais sossegado.
Eu ganho um salário mínimo!
Não acho justo deixar sofrendo,
Meu pobre amigo deputado,
Que estava quase morrendo.
Sem poder comprar comida,
Com a família desnutrida,
E o pobre coitado devendo.
Eu sonhava ser deputado,
Mas já fiquei desiludido.
Desde que este grande amigo
Falou-me assim, tão ressentido,
Do seu salário de miséria,
Dos desgastes da matéria,
Que tirei isto do sentido.
Não quero mais ser parlamentar,
Porque vivo aqui muito bem.
No meu big apartamento,
Eu não preciso de ninguém.
Com o meu mínimo no bolso
Minha vida é um colosso,
Só exibo notas de cem.