A RÉGUA DA MORTE
Por Gecílio Souza
Duas grandes interrogações
Inquietam a nossa sorte
Qual o sentido da vida?
O que justifica a morte?
Os dramas existencias
Às vezes nos tiram o norte
Antropológico nivelamento
Equipara o fraco e o forte
Somos todos segregados
Num mortífero malote
No mesmo pé de igualdade
A diferença é só o decote
Alguns encangam a outrem
Mas sobre o próprio cangote
Paira a guilhotina do tempo
Um invisível serrote
Que a todos conduz ao fim
Uns correndo, outros de trote
Diante da dama de preto
São inúteis choro e pinote
De nada valem o ouro
O poder, o holofote
Do lado inverso da vida
Não há bancos, não há lote
A natureza é mãe severa
Nos dá e nos tira o suporte
Miseráveis somos todos
Como o desgarrado filhote
Sem a lúdica distração
A vida é um profundo corte
A mulher da foice é dura
Não há ser que lhe derrote
Sorrir, chorar e morrer
Compõem o mesmo pacote
Portanto, lute e trabalhe
Viva, ame e não se revolte
A face cruel da vida
Descarte e jamais anote
Una o cérebro ao coração
Pegue alguém e adote
Estamos em visita ao mundo
Portando ou não passaporte
Seja destemido e autêntico
Atire ao chão o capote
Seja fieal a si mesmo
E beba do próprio pote
Ocupe e honre o seu lugar
Não usurpe, não boicote
Monte sempre na garupa
Ceda aos outros o cabeçote
Somos turistas em trânsito
Em diferente transporte
A velhice é uma víbora
Pronta para dar o bote
A vida é um trem veloz
O ócio é um camarote
Pule, brinque e gargalhe
Dance e pratique esporte
As regras são arame farpado
O código é falso mascote
A existência é traiçoeira
A esperança dá o calote
Às vezes é bálsamo e remédio
Às vezes é castigo e chicote
Mas vivamos intensamente
Neste existencial caixote