Caravela da esperança
No oceano de maldades
Há um mar de desenganos
Um rio de falsidades
Uma lagoa de danos
Um riacho de saudade
Uma fonte de enganos.
Um pinguinho de amor
Uma taça de ilusão
Um cálice com muita dor
Fruto da desilusão
Uma jarra de temor
De viver com a solidão.
No oceano uma donzela
Vê o mar sempre contínuo
Embarcou na caravela
Num momento de inopino
Quer agora içar a vela
Pra voltar ao seu destino.
No acesso à caravela
Há a ponte dos desejos
Mais parece uma pinguela
Que a leva aos vilarejos
Onde está a passarela
Que se vê dos lugarejos.
Nessa ponte de saudade
Uma flor não muito grande
Mostra uma realidade
Exposta numa estante
Tem si toda a verdade
Que a todo momento expande.
Essa flor é a esperança
Que está se lastimando
Já cansada da andança
Vai ficar só descansando
Vem buscar a tolerância
Para combater desmando.
Essa caravela vai
Levar para o infinito
Quem não quis cuidar do pai
Como se fosse um desdito
E quem o amigo trai
Achando muito bonito.
O timão da caravela
É um volante empenado
Já caiu a manivela
Está todo enferrujado
Serve só pro sentinela
Manter-se sempre acordado.
No casco da caravela
Não existem mais espias
Ninguém sabe quem é ela
Não há quem a viu um dia
Tem na quilha uma tigela
Onde jogam a agonia.
No costado há uma arca
Que saiu do horizonte
Onde passa deixa a marca
De si mesma sobre a fonte
Ela nunca se desmarca
Não aceita que a desmonte.
No porão da caravela
Seguem os desajustados
Cada um na sua cela
Preso aos passos mal dados
Caminhando à luz de vela
Buscam rever o passado.
Eu entrei na caravela
Lá revi a esperança
Na sua roupa amarela
E no colo uma criança
Que pedia para ela
Acabar com a matança.
Recusei seguir viagem
Não havia para mim
Um lugar na carceragem
Que não é tão má assim
Vi que só levar vantagem
Foi meu calvário sem fim.
Eu deixei a caravela
Embarquei numa canoa
Sei que não é a mais bela
Balanço do mar me enjoa
Mas eu vou seguir com ela
Para fazer coisa boa.