O MEU RIMANCEIRO * O vazio...

Se eu soubesse escrever um poema,

um poema de amor e louvor,

cantaria a beleza suprema

deste sol ao nascer e ao sol-pôr.

Cantaria o vermelho da aurora,

que de enleios o céu ruboriza,

e o sangrar do sol-pôr que precisa

o negrume que já não demora.

Cantaria depois as estrelas

que pontilham o longe infinito

neste sonho infantil de colhê-lhas

na pureza sagrada de um rito.

Cantaria noite alta o luar

num absurdo e falaz fingimento

de esperar que virias sarar

as feridas do meu sofrimento.

Mas eu sei que não vens nunca mais.

Se foi Deus que te trouxe e levou,

de que servem agora os sinais

no vazio de nós que restou?

José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 2 de Março de 2017.

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 02/03/2017
Reeditado em 03/03/2018
Código do texto: T5928284
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