O MEU RIMANCEIRO * O vazio...
Se eu soubesse escrever um poema,
um poema de amor e louvor,
cantaria a beleza suprema
deste sol ao nascer e ao sol-pôr.
Cantaria o vermelho da aurora,
que de enleios o céu ruboriza,
e o sangrar do sol-pôr que precisa
o negrume que já não demora.
Cantaria depois as estrelas
que pontilham o longe infinito
neste sonho infantil de colhê-lhas
na pureza sagrada de um rito.
Cantaria noite alta o luar
num absurdo e falaz fingimento
de esperar que virias sarar
as feridas do meu sofrimento.
Mas eu sei que não vens nunca mais.
Se foi Deus que te trouxe e levou,
de que servem agora os sinais
no vazio de nós que restou?
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 2 de Março de 2017.