O MEU RIMANCEIRO * A praga
Um dia, p’la Primavera,
na festa de todos nós,
o povo soube quem era
e de novo teve voz.
Gritou a sua razão
há tanto tempo oprimida!
Não mais havia a prisão
p’ra quem reclamava a vida.
Declamaram-se os poemas
p’la tirania banidos…
E quebraram-se as algemas
dos caminhos proibidos…
Houve abraços e beijinhos
e também amor jurado
de quem, por outros caminhos,
andara a passo trocado.
Chegara a fraternidade
aos desavindos que houvera.
Chegara a claridade
vestida de Primavera.
Foi tudo assim tão bonito,
até à praga fatal:
isto assim é tão bonito
que só pode acabar mal…
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 27 de Fevereiro de 2017