AS MACACAS CANTORAS

AS MACACAS CANTORAS

Jorge Linhaça

Prestenção meu povo

na história qui vô contá

foi lá em Sobrado Novo

que arresorvero juntá

como nos braço di um polvo

muita gente pra forrozá

A sanfona cumia solta

a poeira subia do chão

a muierada tava louca

no ritmo de um baião

a coisa não era pouca

e rolava muita azaração

os cantor soltava a voz

e o povo ia firme no refrão

Virge santa , rogai po nós!

era muita emoção

inté que depois duns gorós

começou a esculhambação

Três macacas de auditório

resolveram fazer o beque

subiram nu parlatório

e num houve passa muleque

que evitasse o repertório

e nas doidas pusesse breque

Seguraram o microfone

como se fosse uma banana

pareciam mortas de fome

queriam minutos de fama

e lá embaixo os homis

olhavam com cara de sacana

eram três bocas alucinadas

querendo o equipamento

pareciam inté esfomeadas

gritavam mais que jumento

cada uma mais se atracava

no microfone babento

A paltéia estava arretada

num sabia se chorava ou ria

muita gente até gritava

Credo em cruz, Ave maria!

e eu apenas gargalhava

com a cena que assistia

Foi um custo pros segurança

arrancar as mulheres dali

e acabar com aquela lambança

coisa igual eu nunca vi

ria feito uma criança

chegou a me dar piriri

Fiquei até com gastura

e o povo a gritar desvairado

tamanha era a embocadura

daquele trio tão arretado

mas se o que arde cura

saiu o trio de lá bem curado.

E aqui encerro a cantoria

que o show num pode parar

mas do que vi naquele dia

num podia deixar de contar

das macacas a estripulia

de com o microfone brincar.