MINHA RESPOSTA AO DOUTOR

Um doutor me alertou:

“___’Cordel’ não é composição

para falar de amor

filial, ou devoção.

Você é jovem, e se exalta

quando fala de paixão.”

Não sou jovem, na idade,

isso eu sei muito bem.

se me chama analfabeta

ofende aos jovens, porém!

Mas o doutor é acadêmico,

e sábio como ninguém.

Meu trabalho é sem valia,

por ser fruto da emoção,

do amor e do respeito

que trago no coração,

pelo pai que nunca vi,

por quem sinto adoração?

Não tem aprofundamento

Linguístico, estético e temático?

Necessita gestação,

“contrações”, depois um parto,

de obra amadurecida,

com sustentação de fato!?

Muito bem, vou lhe dizer

O que penso disso tudo:

__tem doutor que aprendeu

Um pecado cabeludo:

“Mateus, primeiro, os teus”

E banana para o mundo!

Não mudarei coisa alguma

do que falei no cordel.

Meu amor pelo meu pai

é doce, são, feito o mel

da abelha, que desde o início,

fabrica, sem ter anel...

de doutora, pode crer!

Não procure comparar

cultura e academicismo

pois corre o risco de errar:

onde os homens das cavernas

aprenderam a pintar?

Considera tais desenhos?

Para o senhor é cultura?

O que escrevi, saiu de mim

não de outra criatura,

copiar ideia alheia,

não é de minha feitura!

A verdade não precisa

de enfeite ou atavio

por que quem assim pensar

perde, da meada, o fio

e fica no ancoradouro,

feito besta, a ver navio!

Sou desmedida, é verdade.

Meu sentimento é real.

Quando amo sou fiel.

E o meu ódio é mortal.

Velha/jovem? Sou mulher,

com a fúria de um vendaval...

que varre para bem longe,

a porta fechada à cara,

grita pros quatro ventos,

cortante, igual navalha:

____Quer me ver comer poeira,

Ou cortar minha mortalha?

Deixe que eu morra primeiro,

Encangue os bois do seu carro.

Não sou erudita e sempre

com palavras me atrapalho...

e minha “paixão desmedida”,

resultou nesse trabalho.

Que segundo o doutor,

é uma porcariazinha.

mas lhe devolvo a moeda

da avaliação mesquinha,

e do texto que escrevi,

não retiro uma linha.

Tudo que disse ali

São fatos da minha vida

não só falei em meu pai...

falei em minha família,

se o senhor tivesse uma,

por certo me entenderia!

Se foi uma exaltação

aquilo que escrevi

não foi apenas filial,

maternal também senti.

E passei para o cordel,

por isso lhe ofendi!

Mil perdões, caro doutor,

por não ser especial,

Por não saber comportar-me...

sim, sou antissocial.

E na linguagem acadêmica?

Sou um zero, uma anormal!

Mas peço ao Senhor Deus

Que o resguarde do perigo

De um dia enfrentar,

Como aconteceu comigo,

A avaliação de um ‘gênio’

Que não seja seu amigo!

E que ele não julgue

a sua capacidade

sem levar em muita conta

a sua honestidade...

e lhe atropele os direitos

com ‘gestos’ de crueldade.

Meu trabalho vai girar

Por Maceió toda, em peso.

Vou entregar pelas ruas,

pelas esquinas, e vejo:

O senhor pisou meus versos?

Atiçou o meu desejo.

De justiça social,

ante a discriminação.

Não gosto de usar cabresto,

nem diante da humilhação,

baixar a minha cabeça

e enfiá-la no chão!

É que não sou avestruz.

Sou cidadã brasileira.

E sei quais são meus direitos

não vou cair na besteira

de pedir o que é meu,

e alguém me dá tranqueira!

Não recebo, não senhor!

Olhe a lata do lixo,

guarde lá, seu parecer,

por que dele não preciso

sei que ouvirei o povo

chorar ou cair no riso...

___________________

Continua...

Adda nari Sussuarana
Enviado por Adda nari Sussuarana em 21/02/2017
Reeditado em 09/07/2021
Código do texto: T5919918
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