ESPELHO DE NOSSA NAÇÃO
Esse texto surgiu em protesto contra o fechamento da disciplina de Literatura na grade do Ensino Médio no Mato Grosso do Sul. Na terra de Manoel de Barros, Emmanuel Marinho, Hélio Serejo e tantos outros bons nomes, é um ato de traição uma medida como essa. Afinal, político que não preza o seu povo, não o quer sendo letrado.
Tem um ditado bem podre,
Mas cheio de prejuízo,
É como uma cascavel
Que assusta batendo o guizo,
Coração douto sacode,
Ele diz: “manda quem pode
Obedece o de juízo”.
Nessa pobre Bruzundanga
Que chamam de “Terra Amada”,
Cheia de burocracias
E ideias desastradas,
Há quem manda sem saber
Só porque tem o poder,
Mas no fim não sabe nada.
Uma árvore frondosa
Vai anos para crescer,
As aves fazem seus ninhos
E ali vão se esconder,
Mas o tal capitalismo
É um monstro, um abismo,
Faz a árvore perecer.
A nossa Literatura
É árvore de fruta boa,
Cresceu nos alimentando
Mostrando não ser à toa
Do Oiapoque ao Chuí
A gente boa daqui
Seus trejeitos nela ecoa.
Desde os tempos primórdios,
Quando o Cabral chegou,
Fizeram dela o marketing
O povo pra cá mudou,
E forjou uma gente forte,
Que luta até a morte
Mas no humor dá um show.
Nossos Barrocos brilharam:
Conceptista e Cultista.
Vieira com seus sermões,
Gregório com suas críticas;
E um tal de Aleijadinho,
Com as pedras do caminho
A Ouro Preto ficou rica.
Depois veio o Arcadismo
Com os seus inconfidentes,
Cláudio, o homem sonhador,
Tomás, o gente da gente,
Basílio, o indianista,
Santa Rita, o classicista,
Mudaram as nossas mentes.
Surge o nosso Romantismo,
E a nossa “liberdade”,
As letras do idealismo,
E a pátria em puberdade.
Descreveram o Brasil
Com o céu da cor do anil,
Fora da veracidade.
Mas descreveram também
Nossas festas e saraus,
Também ali descreveram
Índios bons e brancos maus;
E os negros longe da aura,
Se não fosse a Escrava Isaura
E o Castro Alves, babau!
Saímos do Romantismo
E caímos na real;
Fugimos do idealismo,
Chegando ao racional.
O Machado da razão
Cortou a falsa emoção
Focando no visceral.
Aparece o Azevedo
Cheio do Determinismo,
Aponta a reificação
Adepto do Darwinismo.
O cortiço, a pensão
E o mulato “sem razão”
Ganham espaço no civismo.
O parnaso chega aqui
E sua metalinguagem,
Uma arte pela arte
Com uma pobre mensagem,
O foco no próprio texto,
Tendo ele como pretexto
O humano ficou à margem.
Vem depois o Simbolismo
Regressando à emoção,
Indo ao sobrenatural,
Registrando o coração,
Desenhando a loucura,
As sensações nas alturas
Deixando fora a razão.
Chega então o séc’lo XX
E junto o Modernismo,
Denunciando os problemas,
Com um crítico nacionalismo.
O Monteiro e o Barreto,
Euclides e o Simões Neto
Críticas e regionalismos.
Drummond, o homem de ferro,
Manuel ergue a bandeira,
Oswald e a deglutição,
Mário, uma voz brasileira,
Macunaíma, “um gigante”,
Alcântara, o imigrante
‘Sem’ uma ‘eira nem beira’.
No sertão uma Rachel
E o nosso Gracilianíssimo,
O Amado da Bahia,
Romancista amabilíssimo.
“Se deixar comigo, eu brigo.
Sou o Capitão Rodrigo!”
Do grande Érico Veríssimo.
Sou amor, eu sou Vinícius,
Sou Nordeste, o João Cabral,
Ariano Suassuna,
Manoel do Pantanal,
Sou dos índios, Emmanuel,
Trovador, sou menestrel,
Buscando a terra sem mal.
Mas tem gente que só sabe
Usar do egocentrismo,
Quando vê alguém fazendo
A letra do altruísmo,
Com uma boa canetada,
Faz do poder a paulada
Com um desastrado cinismo.
Por isso vou te dizer,
Repita pra qualquer um,
Pátria que amordaça os seus
Pra não ler livro algum.
Desfaz da Literatura,
Vai ver de longe a fartura,
Perdendo de 07 a 01.