Moradores da rua.
Este texto é um singela homenagem que presto àqueles que não tem onde morar e por isso moram nas ruas .
Hoje eu vou falar num tema
Que é verdade nua e crua
Cada um com seu problema
Tem pra si somente a lua
Tenho a liberdade plena
Sou um morador de rua.
Sei que sou mal entendido
Não conheço o meu futuro
Meu passado é esquecido
Meu presente é sempre escuro
Pelo que já foi vivido
Sobrevivo em solo impuro.
As minhas necessidades
Em geral ignoradas
São as precariedades
Que coloco nas calçadas
Pouco importa a minha idade
Ou a roupa emporcalhada.
Faço a cama de jornal
Não faço uma refeição
Sempre como muito sal
Que faz subir a pressão
Tudo isso ao final
Me coloca no caixão.
Faço da vida o destino
Que eu sei que me espera
Comecei desde menino
Conviver com besta fera
Não me deu qualquer ensino
Fez da paz uma quimera.
Minha sorte está escrita
Numa pedra por cinzel
Nu fundo cimento e brita
Pra fazer um fogaréu
Minha carne será frita
Mas a alma vai pro céu.
Faço o meu dever de casa
Suportando o sofrimento
Pra voar não tenho asa
Deus não vê o meu tormento
Meu fogão é uma brasa
Onde esquento o alimento.
Se eu penso em trabalhar
Minhas forças se acabaram
Todos vão me evitar
Vão dizer que me ajudaram
Me acusam de roubar
Em ladrão me transformaram.
Vejo o sol à minha frente
Mas se nega a me esquentar
Espero que ele aguente
Um pouquinho me esperar
Para mim nada é urgente
Sou ninguém a vadiar.
Se eu paro em uma loja
Vem alguém me vigiar
De mim ele se enoja
Não preciso perguntar
Diz que sou membro da corja
Mesmo querendo pagar
Dos meus pais eu esqueci
À mulher abandonei
Os meus filhos nunca vi
Do meu lar eu nada sei
Sei apenas o que sofri
No caminho que andei.
Já estou acostumado
A viver de amarguras
Pago o preço cobrado
Pelas minhas desventuras
Pelas quais, se condenado,
Poderei sair das ruas.
Todas as desesperanças
Vão comigo pro além
Poucas são as esperanças
Que não servem pra ninguém
Mas no dia das bonanças
Sei que vou sorrir também.
Pouco importa o que sofri
Nada mais me escraviza
Não importa o que vivi
Hoje o tempo me avisa
Que ganhei o que perdi
Conversando com a brisa.
O meu lar, tenho certeza,
Está em lugar seguro
Nele está a minha mesa
Coberta de ouro puro
Uma chama está acesa
Pra aquecer coração duro.
Eis aqui o meu recado
Para o morador de rua
Você não paga pecado
Por não ter a casa sua
Volte um passo no passado
E um novo lar construa.