O barulho do silêncio
No silencio do barulho
Ouço o tempo me dizer
Que estou juntando entulho
Nesse meu pouco viver
Levo a vida no embrulho
Nunca tendo o que fazer.
Ouço vozes no silêncio
Mas não sei qual a razão
Todo dia eu me convenço
Ser honrado cidadão
Nesse mesmo dia eu penso
Que sou mero charlatão.
Sou pacato senhorio
Detentor da ambição
No calor eu sinto frio
Mas não mudo de estação
E no tempo de estio
Eu alago a plantação.
Fiz do meu tempo passado
Um degrau pra guilhotina
Mas da morte fui poupado
Pela mão de uma menina
Que falou não ver pecado
No que minha voz ensina.
Nisso vi o meu destino
Que não era mais só meu
Também era do menino
Que do meu amor nasceu
Dele eu recebi ensino
De mim nada ele apreendeu.
Fiz do meu palavrear
Um canal pro sofrimento
Foi difícil carregar
Mesmo leve como o vento
Vendo o dia clarear
Vinha a mim conhecimento.
Fui fazer uma viagem
Para ver o meu futuro
Hospedei numa estalagem
Onde estava tudo escuro
Tinha muita vadiagem
E nenhum lugar seguro.
Fui em busca de prazer
Não ouvi quem me dizia
Que em tudo há sofrer
E também há alegria
Tudo que acontecer
É parte do dia a dia.
Fui olhar lá na cozinha
O que havia pra comer
Recebi uma latinha
Para ter como beber
Porém nada ela continha
Isso eu podia ver.
Fui até um ribeirão
Pra pegar a água limpa
Mas só vi desolação
Na água cheia de tinta
Não deu pra lavar a mão
Que também ficou retinta.
Perguntei ao meu mentor
Para que serve o lutar
Ele disse que o valor
E aquele que alguém dá
Pode até não ter valor
Se com isso eu concordar.
Fui aos poucos aprendendo
Aa ouvir o meu silêncio
Sem olhar eu ia vendo
Como o meu viver é tenso
E assim fui conhecendo
Para que serve o bom senso.
Fiz o caminho de volta
Pra voltar do amanhã
Deparei com uma escolta
Que buscava coisa vã
Ela disse que me solta
Se eu cumprir o meu afã.
Meus desejos se perderam
Num espaço de saudade
Eu tentei juntar dinheiro
Veio a dificuldade
Por querer ser o primeiro
Vivi na banalidade.
Fui aos poucos dando conta
Dos prazeres fugidios
Que falsidade espanta
Para perto dos gentios
Que os olhos so levanta
Pra mostrar o próprio brio.
Deus me deu um novo dia
Para eu ver meu amanhã
Era tudo que eu queria
Vero dia de manhã
E em cada novo dia
Bem cumprir o meu afã.