A FAZENDA, OS SÍTIO E OS DOTÔ ...

A FAZENDA, OS SÍTIO E OS DOTÔ ...

Heraldo Lage

Personagens

Os Sítios nas fazenda ...

Caboclo escrivinhadô ...

Dotô das moda ...

Dotora dos bestunto ...

Dotora das lei ...

I

Havia uma grande fazenda

Do tamanho de todo o mundo

Tinha muita gente de prenda

E também muito vagabundo

II

Tinha trouxa pra num fartá

Tinha esperto pra cachorro

Andei nos teatro principá

De tanto rir quase morro

III

O teatro é o campo da vida

Pra intendê essa geringonça

Trabaiei muito nessa lida

Conheci muito amigu da onça

IV

Vi tumbém muitas pessoa distinta

Atuá nessa isquisita sociedade

Compensação parece que de tinta

Se pintava as pessoa das cidade

V

Pintava os seus modo de sê

Cada um qui lá vivia

Pra fazê acuntecê

Tudo tudo o que eles quiria

VI

Era um mundu di verdade

Tinha um tar dotô das moda

Que cantava sem mardade ?

Como dizia Fócrates, é soda !

VII

Cantava as donzela carente

Cantava as donzela abastada

Cantava tudo tudo que é gente

Acho que inté as muié castrada

VIII

Tinha uma dotora das lei

Que dava como chuchu na serra

Como é qui fazia eu não sei

Quando ela fica brava só berra !

IX

E a dotora dos bestunto

Esperta como ela só ! ...

Fazia dos vivo, defunto !

Tá cum ela ? Tenho dó !

X

Dizia a todos que amava

Pra usá cada pessoa ...

Despois fingia ser brava

Pra podê sair numa boa

XI

Pra enganá falava manso

Nas oreia dos pobre coitado

De lembrá tudo num mi canso

Vi doutô saindo arragaçado

XII

Pois cum outra se invorveu

Numa história parecida

Si comportô mar na lida

E nem se qué se apercebeu

XIII

A otra ... também dotora era

Só que ela mandava nas lei

Monstra e brava parecia fera

Como se entendiam, num sei

XIV

Tudo acuntecia numa telinha

Cada quar em seu lugar ...

Diz que ali inté sexu tinha !

Dum jeitu que nem sei explicar

XV

Só sei que a turma se acabava

Inté juravam que eles se amava

Tranzando pela telinha trocava

Cunversa inté que eles gozava !

XVI

Ainda num consegui intendê

Cumé que os casar fazia isso

Acho qui é mió nem cumpriendê

Ou inda fico louco e morro disso

XVII

O doutô das moda que tanto jurava

Amor pela outra com essa injaculava

A outra que num quiria ser iscrava

Quando soube tudo ficô muito brava !

XVIII

Foi ai qui o caboclo escrivinhadô apareceu

A doutora pra se vingá do seu dotô traidô

Cum o caboclo escrivinhadô si invorveu

Se pintô e nova história de amor começô

IXX

Mas o caboclo que de troxa nada tinha

Foi logo logo dela se discunfiandu

Dizia a ela, - Tu qui entre na minha !

E assim é que cum ela foi ficandu ...

XX

A coisa acolá si foi esquentandu ...

E pintura novamente si instalandu

Pois na fazenda num fartava tinta

E ele esperto pra num cai na finta

XXI

Ouvia todas cunversa dela

Que dotora sabia si cumportá

Mais paricia no cio uma cadela

Provocava o caboclo prá transá

XXII

O caboclo qui era muito machu

Arretado prá cachorro

Na maió cara di tachu

Pensô, seu num tranza eu morro

XXIII

E deixô acuntecê cum ela

Tudo tudo o qui ela quiria

Assim foi entrandu na dela

Prá saber o finar como seria

XXIV

Num demorô muito prá aparecê

De vorta o doutô das moda

Jurando o amor dela merecê

Como dizia Fócrates ... É soda !

XXV

A doutora dos bestunto logo recomeçô

A jogar duplo com o caboclo escrivinhadô

Que com o amor já estava meio envorvido

E percebeu que dali podia era sair ferido

XXVI

Pra prová os sentimento

Da muié com quem se envorveu

Botô modo di cumprimento

Pra vê si ela num si arrependeu

XXVII

Ela sempre si isquivava

Das pressão qui dele ricibia

Achando qui a ele inrolava

Nem mesmo se apercibia

XXVIII

Num provava nunca nada

Pro caboclo apaixonando

E pra não dar mais mancada

Foi a ela logo apertando

IXXX

A dotora dos bestunto

Acostumada a lidar nessa linha

Pra vortá pro seu antigo presunto

Deixou dele na telinha

XXX

Foi assim que dotora, uma mestra

Vortô pro dotô das moda

Que fazia cantiga inté pra orquestra

Um monte de tocadô em roda

XXXI

O dotô sabia fazê e iscrevê as moda

Parece qui sabia cantá tumbém

Se do jeitim que vai pra ela ele vem

Diz inté que na mão dele, dotoras roda

XXXII

A dotora que num quiria sê troxa

Procurava esquecê a traição

Se lembrava ficava era roxa

De raiva dequele seu dotô zangão

XXXIII

E dispois ela sabia qui já tinha dançado

Pra tar monstra qui era dotora das lei

E que com o dotô das moda tinha gozado

Na tal de telinha de que jeito nem sei

XXXIV

Por isso güentô na retranca

Pra num perdê na cumpetição

Queria sê do doutô a potranca

Nem que fosse ele o campeão

XXXV

Tudo paricia seguir numa boa

E a dotora dos bestunto nem percibia

Que tava furada essa canoa

Que com o tempo a canoa afundaria

XXXVI

Pois estava de conchavo o dotô das moda

Cum a dotora das lei pra uma peça pregá

Na dotora dos bestunto qui ainda roda

Nas mão dos dois dotô pra se arrebentá

XXXVII

A primeira dotora que antes de tudo era amiga

Da segunda que inté sempre a outra defendia

Por causa de macho criaram as grandes intriga

Só sei que despois uma da outra sempre fugia

XXXVIII

Mas a outra, a primeira perseguia

Pois dela inté presentes ganhava

Se era uma chance que ali perdia

Nunca mais a dotora se recuperava

IXL

A monstra e tumbém dotora das lei

Já tinha roubado o dotô das moda

Da dotora dos bestunto, isso eu sei

Como dizia Fócrates, É mesmo soda !

XL

Aproveitô que tinha do dotô o rabo preso

E nem sei se era com muita ameaça

Que o dotô se juntô pra pode sair ileso

Das encrenca que gerô essa bagaça

XLI

Nisso tudo tinha mais um pormenó

Dotora das lei já tinha dado encima

Do caboclo que dela se safô sem dó

Cantarolando argumas poucas rima

XLII

Porque soube que a dotora das lei

Era uma monstrenga muito feia !

Parecia uma baleia ! Eu contei ?

Pra fugir dela, ele garrô foi a areia

XLIII

Se a dotora fosse feia mas tivesse sentimento

O caboclo escrevinhadô podia inté ter pena dela

Mas num é pensando e agindo como um jumento

Que sê livrava da dotora maió que uma vitela ...

XLIV

Inté cantado ele foi pro tar sexo virtuar

Pela dotora das lei tarada e monstrenga

Que era feia como ela só e inté pra falar

Se portava como uma tremenda quenga

XLV

Mas na dela o caboclo num entrô nisso

E ela ficô por conta, brava pra bichiga

Dizem que outras coisa e tumbém por isso

A dotora tinha inté muita dor de barriga

XLVI

Dizem que corria pra casinha o tempo todo

Quando num era mesmo só pra cagá

Pra bota fora tudo o que tinha de lodo

Se recolhia desesperada inté pra vomitá !

XLVII

Cumé qui um caboclo de tanto bom gosto

Podia por uma quenga dessa se apaixoná ?

Ou ele morria sofrendo de muito desgosto

Ou se num morria, ia mesmo era se matá !

XLVIII

Por causa disso a dotora das lei começô

A falá mar do caboclo pra todo mundo

E agindo assim foi que ela mostrô

Seu jeito de ser bem imundo !

XLIX

Inté o ponto dessa estória que eu sei

O caboclo se livro duma baita fria

E se agora conto o que num contei

É que os três dotô nesse triângulo vivia

L

Óia que pra num fica perdidu

Nessa estória de tantos dotô

Caboclo escrivinhado esquecidu

Pelos canto do seu sítio ficô ...

LI

Tumbém troxa esse caboclo num era

E quando se viro numa baita fera

Resorveu ele escrevê essa estória

Pra deixá guardada na memória

LII

Esse conto inacabado

Porque a vida continua

Cheia de pobres coitado

E espertos pelas rua ...

Heraldo Lage

www.hlage.com.br

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Em 09/09/2002 - 17:14 hs.