AS PERGUNTAS IDIOTAS E AS RESPOSTAS DE SEU LUNGA PARTE 4

Mais uma vez eu me rendo

Às perguntas idiotas

Que o povo faz a Seu Lunga

Sempre fazendo chacotas

Pra ver o velho enfezado

E bastante chateado

Com todas essas lorotas.

Um dia, calçando as botas,

Sentado num caçuá

Pois tencionava fazer

Um negócio em Quixadá

Quando passa um rapazote

E pergunta com fricote:

«Seu Lunga, vai viajar?»

O velho ao se levantar

Vendo o rapazote rir

Foi dizendo: «Oh imbecil,

Tu tá vendo mala aqui?

Sua pergunta me agrava,

Não tá vendo que eu estava

Me ajeitando pra dormir?»

Pra o leitor ver e sentir

Como Lunga é impaciente

Numa certa noite ele

Acordou com dor de dente

Pegando um martelinho

Quebrou o dente todinho

E foi dormir novamente.

Certa vez num ambiente

Lunga estava se alegrando

Num forrozão em que o velho

Dançava sapateando

Quando alguém lhe perguntou

No meio daquele show:

«Lunga, você tá dançando?»

O velho foi pinotando

Com sua cara de intriga

Respondendo assim pro moço

Raivoso, dando a bexiga

Num tom bastante exaltado:

«Tu num tá vendo, abestado,

Que eu tou matando formiga?!»

Lunga deixou uma amiga

Cuidando do armazém

E foi a um geriatra.

O médico, como convém,

Ao vê-lo entrando no posto

Perguntou com muito gosto:

«Como vai? Tá tudo bem?»

Zangado como ninguém

Lunga foi se levantando

E com raiva foi dizendo

Injuriado e bufando:

«Respondê-lo a mim convém,

Se eu estivesse bem

Num tava me consultando.»

No Amazonas passeando

Lunga chegou em um rio

Aproximou-se do cais

Para pegar um navio

Quando a embarcação

O dono lhe perguntou:

«Vai pegar um barco, tio?»

Aceitando o desafio

Lunga ficou espumando

Saindo da fila então

Olha o que foi aprontando,

Saltou pra dentro da água

Dizendo cheio de mágoa:

«Não, acho que eu vou nadando.»

Uma vez Lunga gripando

Abriu a porta do carro

E deu uma catarrada.

Vendo a sujeira no barro

Perguntou-lhe Piedade:

«Seu Lunga, por caridade,

Tudo isso é catarro?»

Sem fazer nenhum esparro

Ficar calado ele tenta

Mas ainda se limpando

Com a cara de tormenta

Respondeu, sem caridade:

«É manteiga, Piedade,

Que eu tou tirando da venta!»

Numa pescaria ele tenta

Sossego, sem se alterar

Nisso Zé Gois se aproxima

Com intenção de atrapalhar

Vendo Lunga com os anzóis

Perguntou-lhe assim Zé Gois:

«Lunga, estais a pescar?»

Seu Lunga só fez quebrar

As varas de tal maneira

Olhando para o rapaz

Dizendo, «Mas que besteira!

Num tá vendo, seu cagão,

Que essas varetas são

Pra fazer uma fogueira?!»

Lunga foi a Ipueira

Num ônibus sem tá lotado

O assento ao lado dele

Estava desocupado

Outra pessoa chegou

E ao velho perguntou:

«Tem alguém aí sentado»

O velho mal educado

Com sua cara de prego

Olhou pra cadeira e disse:

«Grande cegueira eu carrego,

Se você tá vendo alguém.

Pois aqui não tem ninguém,

Se tiver eu estou cego!»

Um televisor no prego

Estava quase queimando

Um rapaz viu o ranzinza

Na tal TV cutucando

Mas pra perto se chegou

E pra o velho perguntou:

«Esse TV tá pegando?»

Seu Lunga ficou olhando

Pra o rapaz com mal humor

Bufando feito um boi bravo

Ao jovem perguntou:

«TV boa ou quebrada,

Me diga, meu camarada,

Alguma já te pegou?»

Num pilão Lunga topou

Ficando com a perna inchada

Com a cabeça do dedão

Visivelmente esfolada

Vendo o velho reclamando

Um freguês foi perguntando:

«Como foi essa topada?»

Com a perna machucada

Lunga chutou o pilão

Respondendo: «Foi assiim!»

Vendo essa arrumação

O cara gritou na hora,

«Valei-me Nossa Senhora!

Oh, velho bruto do cão!»

O armazém do resmungão

Não é grande nem pequeno

Mas vende quase de tudo.

Chegando lá, Seu Galeno

Com a vista procurou

E ao velho perguntou:

«Lunga, você tem veneno?»

Lunga respondeu sereno

Fazendo uma manobra

Num palavreado assim:

«Vigor eu tenho de sobra,

Tenho orelha, pé e mão

Mas isso eu não tenho não

Pois quem tem veneno é cobra!»

Mesmo onde a esquina dobra

Seu Lunga estava sentado

Quando passou um amigo

Falando muito educado:

«O senhor vai bem, Seu Lunga?»

Lhe respondeu o resmunga,

«Eu não vou, estou parado!»

Lunga tinha viajado

Ver um amigo em Picuí

No Estado da Paraiba

E quando chegou ali

Que o amigo o avistou

Espantado lhe falou:

«Lunga, você por aqui!?»

Lunga pensou entre si:

«Esse cabra é Zé Mané!»

Aí disse pro colega,

«Meu amigo, tenha fé

Estás vendo uma visão

Eu sou uma assombração,

Lunga tá em Canindé!»

Chico Reis de Cariré

Se encostou no seu balcão

Com a boca fedorenta

Lunga perguntou: «Chicão

- Tapando o nariz na hora -

Diga por Nossa Senhora,

Tu num lava a boca não?»

Lhe respondeu o Chicão,

«Eu lavo frequentemente

E sempre vou ao dentista

Pra ficar mais sorridente.

Estou dando uma geral,

Lunga, ontem por sinal

Fiz uma ponte no dente.»

Lunga disse, «Infelizmente

Não continue se tratando

Pois com sou seu amigo

Vou logo lhe alertando

Chico da minha estima,

Deve ter um cabra em cima

Da sua ponte cagando,!»

Um porco Lunga comprando

Abatido pra torrá-lo

«Vai comer esse barrão?»

Perguntou-lhe Seu Gonçalo

Com o bicho dentro da cesta

Seu Lunga disse pro besta,

«Vou nada, eu vou criá-lo!»

Lunga pegado no talo

Chupava um abacaxi

À margem de uma BR

Quando chegou um guri

Tocando no ombro dele

Perguntando assim pra ele:

«A BR é aqui?

A casca do abacaxi

Seu Lunga rasgou no dente

Por causa dessa pergunta

Comendo ranzinzamente

Respondeu: «Cara de escombro

Isso aqui é o meu ombro,

A BR é aí na frente!

Outra vez foi em Vertente

Lunga ia num jumento

Com a esposa na garupa

Isso para um casamento

O jerico emperrou

Acuado se deitou,

Veja que constrangimento.

Com uma arma e violento

Lunga foi contando assim:

«E um... é dois... é três,,,»

Querendo fazer pantim

O burro não se importou

Aí o velho atirou

Dando ao bicho um triste fim.

A velha pegou enfim

Reclamar com impavidez

Lunga apontou o revólver

Pra ela com estupidez

Ela nada de parar

Ele começou contar:

«É um, é dois, é três...»

É claro que dessa vez

O velho não atirou

A velha não sentiu medo

Porque já se acostumou

O velho nesse momento

Esqueceu o casamento

E para casa voltou.

Seu Lunga num bar entrou

Pra tomar refrigerante

Só para o leitor saber

Como ele é ignorante

Veja o que ele praticou

Quando alguém lhe perguntou:

«Tá gostoso o espumante?»

Derramou o refrigerante

Bebeu um copo de fel

Respondendo, «Esse sim,

É gostoso que só mel!»

Essa resposta engraçada

Já foi até ilustrada

Na capa de outro cordel,

Seu Lunga olhando pro céu

Na chuva queria sair

Pegou o seu guarda-chuva

E ao terminar de abrir

Um seu amigo chegou

E surpreso perguntou:

«Nessa chuva dar pra ir?»

Lunga começou a rir

Já fechando o guarda-chuva

Dizendo, «Vou nessa não»

Tirando a capa e a luva

Sem dizer pra onde ia

Só disse com ironia:

«Eu vou ná próxima chuva.»

Zangado igual a saúva

Com tudo ele se irrita

No armazém dele deu

Uma praga de catita

Pra com aquilo terminar

Lunga foi logo comprar

Veneno lá em Rosita.

Perguntou logo à bonita:

«Pra matar rato, o que tens?»

Ela disse, «Esse remédio

A quem dou meus parabéns,

Esse limpa a Natureza

Se o levares, com certeza,

Comprar outro tu não vens.»

Lunga disse, «Não me vens

Com esse papo sereno

Não quero curar os ratos

Vim aqui comprar veneno.

Tua conversa dá tédio

Eu não vim comprar remédio,

Essa prática eu condeno.»

Rosita disse, «É veneno

Não aceito desacatos

Mas afinal, vai levar?

Esse é um dos mais baratos.»

Lunga só observando

Disse a Rosita bufando,

«Não, eu vou buscar os ratos!»

Pra simplificar os fatos,

Lunga em sua construção

Ficou na beira da laje

Veja que situação

O andaime fraquejou

E o velho despencou

Metendo a cara no chão,

Lunga ficou sem ação

Ferido e desconchavado

Passou quase cinco meses

Na UTI internado

Dessa vez quase se arrasa

E quando voltou pra casa

Demorou ficar curado.

Seu Lunga ainda enfaixado

Voltou lá na construção

Um operário perguntou

Como foi a confusão

O velho disse, «Sujeito,

Eu despenquei desse jeito»

Aí se jogou no chão.

Encerrando a narração

Ódio com amor não comunga

Cuidado, caro leitor,

Você que muito resmunga

Procure se controlar,

Porque poderá estar

Com o espírito de Seu Lunga!

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 14/12/2016
Código do texto: T5853189
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