ESTADO DE CALAMIDADE

Miguezim de Princesa

I

Quebrou-se a banca de Tota,

Mulher de João Ventania.

Mesmo esticando a jornada,

Nem um terço ela vendia

Do que fornecia antes

Por falta de freguesia.

II

Mestre João de Alvelino

Também fechou sua bodega.

Fez um ano que não via

Um caminhão de entrega.

Com o caderno do fiado,

Não aguentou a refrega.

III

João Tranguelo se mandou,

Valdeci pediu clemência,

Zé Galego enlouqueceu

Na Feira da Providência;

Meu tio Zé da Cocada

Logo decretou falência.

IV

Raminho de Seu Jobilino

Correu pra se aposentar

Depois que viu Michel Temer

Uma reforma enviar:

- Daqui que eu faça 100 anos

O mundo vai se acabar!

V

Compadre Zé de Vigó

Anda meio jururu

Com o salário atrasado.

Na Serra do Mulungu,

Sugeriu que o prefeito

Pagasse o soldo em Pitu.

VI

Mané Gato trabalhava

Fazendo a transposição,

Não recebe há mais de ano

E nem paga prestação,

Anda nu com uma colher

De pedreiro pela mão.

VII

Chimba marcou um encontro

Com seu irmão Pão Com Ovo,

Bem no Beco de Luizim,

Perto do Bar de Zé de Novo,

Para fazer um levante

E subverter o povo.

VIII

- Se a prefeitura não paga

E a crise está danada -

Disse Zezito Pustema,

Coçando a perna estragada -

Declaramos moratória,

Nós não vamos pagar nada!

IX

Sete Couros sugeriu

Matar um capitalista,

Porque o filho de Gino

Não quis ser seu avalista -

Disse, brandindo uma ficha

Do Partido Comunista.

X

E foi assim que morreu

O sonho de uma cidade:

Ordas de desesperados,

Com tanta infelicidade,

E o decreto do roubo

Se chama CALAMIDADE!

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 06/12/2016
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