MORENO, O CANGACEIRO

 

 

Com a graça do Senhor

Minha gente eu vou contar

Um caso interessante

Daqueles de arrepiar

É sobre o cangaço

Que eu desejo lhe falar

 

Pelo nome de Jesus

Peço-lhe para escutar

Este caso acontecido

Que agora vou narrar

É verdade verdadeira

Você pode acreditar

 

Brejo Santo hospedou

Entre pernambucanos

Seu Manoel Francisco

E os outros seus manos

Que residiram aqui

Por muitos e muitos anos

 

Veio de Tacaratu

O pai com a família

Fugindo de confusão

Por causa de Maria

Tocadora de harmônica

Cantora de sacristia

 

José e Otaviano

Maria São Pedro e João

Maria José e Jacaré

Como Antonio o irmão

Moraram aqui no Brejo

Viviam em união

        

Freqüentaram escola

Tiveram seus amigos

Brincaram e dançaram

Como nos tempos idos

Tocaram muita viola

Lazer dos preferidos

 

Seu Manoel Francisco

Mau bocado padeceu

Com o filho Jacaré

Que muito cansaço lhe deu

Com o Róseo Moraes

Muito chão percorreu

 

O seu filho Jacaré

Havia enveredado

Pra vida do cangaço

Dizem ter assassinado

O Sr. Delmiro Gouveia

E ficou bem calado

 

Entre os filhos de Manoel

Antonio também entrou

Pra vida do cangaço

E muito cedo deixou

O chão brejo-santense

Onde a família ficou

        

Uns entraram pro crime

Os outros desertaram

Alguns aprisionados

Por um tempo ficaram

E a família inteira

Eles desestruturaram

 

Por Antonio Francisco

Este foi batizado

Silva era a família

Do menino citado

Apenas por “Moreno”

Ele foi apelidado

 

Até dezesseis anos

Esteve em Brejo Santo

Indo pro Juazeiro

Sentar praça, no entanto

Voltou de Missão Velha

Não estava no ponto.

 

Dali pra Cajazeiras

Viajou pra trabalhar

Numa empresa de couros

Esteve a laborar

Uma mulher casada

Começou a namorar

 

 
Com dezessete anos

Precisou ser transgressor

Da lei que rege a terra

Contra o seu agressor

Pra defender a vida

Matou sem destemor

 

Fugiu pra João Pessoa

Onde também trabalhou

E foi pro Pernambuco

E pra Alagoas rumou

E em Palmeiras dos Índios

De barbeiro trabalhou

 

Trabalhava em fazendas

No oficio de barbeiro

Viajando todo tempo

Não tinha paradeiro

Aceitou um convite

Dum certo fazendeiro

 

Ali resolveu parar

E se estabelecer

Mas foi surpreendido

É até difícil de crer

Pelos três cangaceiros

Que ao patrão vem render

 

Recebeu um convite

Para ao bando pertencer

E um homem amarrado

Eliminou sem tremer

Com um tiro de revólver

Acabou com o pobre ser

 

Este foi o batismo

Para no grupo ingressar

Durante cinco anos

Chegou ele a matar

Vinte e uma pessoas

Afirmou ele ao falar

 

Dentre estas pessoas

Uma foi em Brejo Santo

Quem era e o motivo

Não se sabe, entretanto

Ele contou o fato

Mas não citou o Santo

 

Ele narrou estes fatos

Quando veio visitar

O nosso Brejo Santo

Depois de nos falar

Através da Jangadeiro

A Rádio do lugar

 

Aos doze dias de junho

Do ano dois mil e seis

Moreno veio ao Brejo

Aos seus noventa e seis

Janeiros bem vividos

Com toda sua lucidez

 

Há uma controvérsia

Sobre o motivo real

Que levaram o Moreno

A viver como animal

Escondido nas matas

Matando e fazendo o mal

 

 
A sua mulher Durvina
Afirma que uma briga

Que houve entre irmãos

O levou a desobriga

Que foi esta a causa

De toda esta intriga

 

O primo João Inácio

Tem também uma versão

Diz que ele no cangaço

Foi parar pela prisão

Injusta que aconteceu

Como se fosse um ladrão

 

Um dia em Brejo Santo

Foi preso como marchante

Por causa de um couro

Que um caba intrigante

Disse ter sido roubado

Sem ter sinal provante

 

 
Foi surrado na prisão
Para o crime confessar

E assumiu ser culpado

Para parar de apanhar

Entrou então no cangaço

Pra da justiça se vingar

 

Muito crime Moreno

No Nordeste praticou

Apesar de ser franzino

Medo nunca demonstrou

Todas as atrocidades

Cruelmente praticou

 

Aqui em Brejo Santo

Esteve a amedrontar

A nossa população

Quando resolveu passar

Uma boa temporada

Nas matas pra se abrigar

 

Algumas ameaças

Ele resolveu dirigir

Ao Sr José Denguinho

Pra dinheiro conseguir

Ia queimar a fazenda

Antes do lugar sair

 

Recebeu o dinheiro

Mas não saiu do local

Pois estava de tocaia

Com todo seu pessoal

Pra matar Toin Piçarra

Naquele regional

 

Havia feito um trato

Com o amigo Lampião

De matar Seu Antonio

Sem dó e sem compaixão

Na fazenda Piçarra

Terra desta região

 

Pra provar sua ação

E confiança merecer

As orelhas de seu Toin

Cortadas tinham que ser

E levadas em troféu

Pra Lampião poder crer

 

O Major Zé Francisco

Era irmão de seu pai

Tentou convencê-lo

Pedindo: meu filho sai

Desta vida infernal

Porque morrer você vai

Do seu tio e padrinho

Não quis conselho ouvir

Continuou no cangaço

E só se afastou dali

Com a triste notícia

Que se espalhou por aqui

 

Todo mundo só falava

Da morte de Lampião

E para o Moreno

Foi uma grande emoção

Saber que o rei do cangaço

Sumiu de circulação

 

Com a morte de Lampião

O trato foi quebrado

Acabou a obrigação

E o ato dispensado

Seu Tonho ficou livre

E Moreno liberado.

 

Com a morte do Vigínio

Assumiu o comando

No grupo Cangaceiro

Foi o chefe do bando

E com a mulher do morto

Ele acabou ficando

 

O seu primeiro filho

Pra puder proteger

Deixou em Tacaratu

Para o padre socorrer

Não dava pra criá-lo

Na caatinga sem sofrer

 

Abandonou o cangaço

E retirado foi viver

Com outra identidade

E sempre a se esconder

Queria criar os filhos

Ensinar ler e escrever

 

O casal de cangaceiros

Fala da vida dura

Da vida cangaceira

Com muita desenvoltura

Narra muitos dos fatos

Até certa altura

 

A sua filha Neli

Sempre desconfiava

Da vida retirada

Que a família levava

Quando dialogava

O casal desconversava

 

O pai um dia revelou

Após ela insistir  

Que ao padre Frederico

Deu seu filho a pedir

Que como seu criasse

Pro menino resistir

 

Após a descoberta

Procurou localizar

O seu primeiro irmão

A fim de realizar

O encontro com os pais

E a família juntar

 

Ligou pra Tacaratu

Pedindo informação

Ele havia morrido

Porém não foi em vão

Conseguiu noticias

Sobre o suposto irmão

 

Com a morte do padre

Inácio tinha partido

Para o Rio de Janeiro

Havia há muito ido

Reformado era ele   

Sargento tinha sido

 

O irmão foi encontrado

E aos pais foi conhecer

Em Belo Horizonte

É de vivente não crer

Em uma periferia

Onde eles estão a viver.

 

Reencontrou seus pais

E os quatro irmãos também

Os quais foram criados

Sem conviver com ninguém

Em Augusto de Lima

Numa serra muito além

 

O velho cangaceiro

Visitou os parentes

Colegas de escola

E fez fotos recentes

A algumas entrevistas

Estivemos presentes

 

Em sua plena lucidez

Fala detalhadamente

De fatos e pessoas

É clara sua mente

Certos comentários

Evita sabiamente.

 

Voltou a Minas Gerais

Com Eudse o seu neto

O filho de Inácio

Que o acompanha de perto

Ao lado do cineasta

Pra protegê-lo ao certo.

 

A história de Moreno

E Dona Durvalina

Reabre um capítulo

E muito nos ensina

Sobre o cangaceirismo

É luz que ilumina.


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