CORDEL DO “CABRA –DA- PESTE”
Aqui bem em poucas palavra
Pra mode eu não lhes cansá
Também pra não lhes assustá!
Escrevo a saga dum Menino-
Homê nascido pra lá nas banda sofrida...
Tão esquecida como as gente de cá;
Lá longe das cidades mais grande
No tudo de dor tão gritante...
Que nem caberia eu falá,
Das dificuldade aviltante
Que eu choro é só de lembrá.
O cabra veio inteligente
De oio vivo, arretado!
Danado feito “cabra –da- peste”
Montado no lombo dum jegue!
Esperto qual ele: ninguém!
No bolso não tinha um vintém
Como nos é de praxe nascê
Aqui... e assim ficá inté morrê.
Nasceu em meio à dura lida
De gente não menos querida
Que fez toda a Pátria crescer
Que hoje inda é gente aguerrida
Que luta pra mode não morrê!
Dum tantão de doença esquisita
De dengue, de Zica doída
De fome, de verme na barriga
Que aqui é mió se esquecê:
Pois só faz nosso peitcho doê.
Sua terra era de fárta de tudo
De água, de grão duro cozido...
Se morria tudo de overdose
Dos abandono pós posses
Dos palanques das inconsciência!
Gemência sem nenhuma querência.
Políticu de gogó vazios
Que só via morrê os seus fio...
Com tudo sempre a perecê.
Do gado morrendo de sede
De todas!- qual a toda gente
Que nasce só querendo vivê.
Do rio acabado, já assoreado
Que vida morrida vinha prometê.
O cabra que a tudo ali assistia
Num dia de coragem da peste
Pegou a garupa da sorte
Pra mode mirar outro norte
Tratou de se aproveitá
Das gente que fugia de lá.
Rodou... rodou... noite e dia!
Encheu o peito de profecia
Palanque da estrada vermelha
Lançou a mentira em centelha...
Prometendo o seu povo amparar:
Só sonhava em pudê se arranjá!
Pudê semear a desgraça
Pudê articulá a trapaça
Pudê gritar toda a farsa...
Às gente de todas as praças...
Nem um “mais dotô” que cismava
Arriscava seu causo prevê.
Nem o mais dos bons adivinho
Pudia ver o desalinho
Do tudo por se esclarecê!
Mas arrisco aqui lhes dizê:
Que o tar do “cabra- da –peste”
Talvez sonhasse em prece
Nunca trabaiá pra vivê!
Assim iniciou sua saga
Ao povo que nele acreditava:
Sua ajuda pra lá de marvada!
Num gesto de farsa vontade
Chorou de farsa sodade!
E tratou de logo prometê:
De tudo ele iria fazê!
Pra mode o povo não mais sofrê.
Catou uma estrela do céu
Amuleto de brilho certeiro
A fingir acender todos breus
Das noite que cairiam apagadas
Nas cabeças das gentes enganadas...
Nem a lua lhe tiraria o chapéu...
Ao tudo que prometeu só ao léu.
Partiu para a cidade bem grande
Dos palanque mais perto ao distante
Começou seu infinito discurso
Nas fala bunita- absurdos!
Nunca invocou os estudos...
"Elite" estudada é defunto.
Pautado sempre em nobre engodo
Ouviam-lhe os homê de todos
Os canto mais distante do mundo!
Os espertalhões e os doutos
Que já alimentavam seus bolsos.
Os pobres néscios esfomeados
Aumentavam em todos os pratos.
No vazio que nada reverbera
Sua fala jamais foi sincera...
E o povo de todas as cidades
Morria sob as ocultas maldades...
Do tudo inda por se fazer...
O Homê...o tar do “cabra-da peste”
Já se elegantava nas vestes...
De dia era bem maltrapilha
Convinha à farsa que gritaria,
Às gente espalhadas nas ruas
Zumbis dum destino cruel:
A quem o inferno era céu.
Gritava à toda galera...
-sou o cabra mais honesto da terra!
De toda esta terra em guerra.
Mas a noite se vestia de pompas
Dos açoites das ventanias
Que tudo levava em quadrilha...
Um dia veio a grande notícia
O Cabra já estava enxergado
Enrolado e todo acuado
Estava inclusive sem foro
Pra tudo que fez em desforro...
Do povo o osso tinha levado
Da dignidade aos quadros
Acervo das vidas esquecidas...
Da própria sua gente sofrida!
Em falsa intenção nem de ajuda!
Sua História já seria bem suja.
Gritava ao povo das ruas
De vidas perdidas, a sua fúria!
Que a suas tão belas vitórias
Todas elas ungidas de glórias...
(na mais mentirosa retórica!)
Já era toda do povão...
Agora era sua sofreguidão.
Uma dura perseguição
Dos doutos em aliança
Os Homê da justa "balança"...
Faziam uma judiação
Ao dono do mió coração...
Ao cabra mais honesto dos tempos
Das palavras perdidas ao vento...
O desfecho deste meu triste cordel
Às estrelas furtadas do céu!
dedico em verso que sinto...
Amargo sabor de absinto.
Só queria contá pra ocêis:
A saga dum povo, enganado de vez!
Que nunca perguntou os porquêis!
Povo que jaz acordado
Em todo seu canto...
Chora sucateado.
Eis a História dum “cabra- da- peste”
Da peste que ele disseminou
A que tanta gente vilipendiou.
História que a ele apenas enricou!
Final que nem ele nunca sonhou.
Dum povo que em perene agonia
Morreu das doenças silenciosas da orgia...
Um povo que alegre vive morrido
Já foi sepultado por todos os circos.
Morrido de farra toda aparelhada
Aquela que mata mais que bomba armada.
Segue o epílogo que jamais confessou:
O cabra- da- peste bem articulou,
A corrupção que a todos matou!
Nota : em sincera homenagem, que é pra ninguém se esquecer.