A vida

No que fiz jamais pensei;

Só cuidei da minha lida;

Dos lugares que passei;

Nunca fiz minha partida;

O que sou também não sei;

Simplesmente sou a vida.

Sou o puro Dom de Deus;

Não há outra explicação;

Para crentes e ateus;

Sempre estou no coração;

Se ás vezes dou adeus;

Isso é pura indagação.

Meu princípio só Deus sabe;

Mas também não tenho fim;

No meu tempo tudo cabe;

O que é bom e o que é ruim;

Porém antes que eu acabe;

Sempre vão pensar em mim.

Sou o implacável tempo;

Que furtou a mocidade;

Sou assim como o vento;

Que não tem ansiedade;

Para muitos muito lento;

Sem qualquer velocidade.

Para outros sou veloz;

Passo tão rapidamente;

Que pareço ser o algoz;

Na degola inconseqüente;

Uma força tão atroz;

Que pra nós somente mente.

Não nos dá o que queremos,

E nos nega o que pedimos;

Nunca dá o que não temos;

Em querer nós insistimos;

O que temos nós não vemos;

O que vemos não sentimos.

Estou com a rapaziada;

Para os quais sou alegria;

Para a moça enamorada;

Mais pareço alegoria;

Para aquela mal amada;

Sou apenas fantasia.

Para o homem sou trabalho;

Pra mulher sou aventura;

Pra criança sou o malho;

A cobrar sua cultura;

Para alguns sou quebra-galho;

Para os quais sou muito dura.

Tenho muitos afilhados;

Nem a todos eu contento;

Faço todos apressados;

Pra tentar parar o tempo;

Para aqueles compassados;

Sou eu mesma o seu intento.

Para todos eu sou curta;

Quando chego ao meu final;

Impossível alguém que furta

Pra crescer o cabedal;

Mesmo tendo a casa surta;

Pra mim mesma sou fatal.

Não reclame dessa vida;

Muitas outras tu terás;

Serei mera despedida;

Tu um dia voltarás;

Logo após minha partida;

Das demais se lembrarás.

Se da vida muito teve;

Se viveu seus bons momentos;

Se na ira se conteve;

Não viveu entre tormentos;

No seu céu você esteve;

Deu a Deus bons alimentos.

Meus melhores argumentos;

São momentos de lazer;

Meus piores sofrimentos;

Geralmente é o afazer;

Apesar desses lamentos;

Continuo a dar prazer.

Sempre dei meu testemunho;

Conduzindo a humanidade;

Muitas vezes sob o punho;

Levando a sociedade;

A manter a arma em punho;

Pela simples vaidade.

Levei fortes ao delírio;

Levei fraco ao desespero;

Para muitos fui o lírio;

Para outros destempero;

Para a vista fui colírio;

Para o lanche fui tempero.

Para todos sou a vida;

Todos temem me perder;

Se um dia fui nascida;

Noutro dia vou morrer;

Fica aqui a despedida;

Dessa que de Deus é ser.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 24/08/2016
Código do texto: T5738170
Classificação de conteúdo: seguro