A FORMIGA E A CIGARRA (baseado na fábula atrbuída a Esopo e recontada por La Fontaine)
Certa vez uma cigarra,
Macho, forte e galante,
Cantou o verão inteiro
Por causa de uma amante.
Cantava de madrugada,
Cantava ao meio o dia
A tarde inteira cantava,
E à noite, sequer dormia,
Ficava fazendo planos
Para de manhã,cedinho,
Abrir logo a cantoria
Acordar qualquer vizinho.
Sentia-se importante
Em seu ofício de cantar,
Vivia de galho em galho
Nas fruteiras do pomar.
Só pensava em serenata
Em arranjar namorada,
Um canto lá nas alturas
A vida mansa e folgada.
Cantava na primavera,
Cantava quando era outono,
Vivia a fazer seresta
Nas quatro estações do ano.
Enquanto isso a formiga,
Atenta e disciplinada
Cumpria suas tarefas
De olho na invernada.
Ela não tinha preguiça
Cortava até o vento,
Incansável trabalhava
Para arranjar o sustento.
Queria, quando o inverno,
Batesse a sua porta
Ficar bem agasalhada
Até se fingir de morta
Lá no fundo da colônia,
Que era a sua cidade
Onde prestava serviços
Junto à comunidade.
Juntava o que podia
Dias e dias a fio,
Para ter o que comer
E não se afogar num rio
Procurando o alimento
Assim, na última hora,
Pois poderia, afogada,
Ver a vida ir embora.
E eis que chega o inverno,
Uma época muito ruim
Privação pra todo lado,
Jejum cruel e ruim.
A formiga, previdente,
Tinha o seu pão garantido
E a cigarra maluca
Só contava com o zumbido.
Começou a sentir fome
As tripas até roncavam
Tentava cantar, porém,
Os outros não a escutavam.
Então, teve uma ideia
E disse “ - Eu vou bater
À porta da formiguinha
E ela vai me atender”.
“Depois eu canto umas modas
E, pronto, tudo está pago,
Volto para a algazarra,
Vou procurar um afago”.
E assim, logo depois,
Foi à casa da formiga:
- Ô de casa! - Ô de fora!
Quem é? – Sou eu, boa amiga!
“Eu vim aqui lhe pedir
Um bocadinho de pão,
Pois o inverno chegou
E eu não tenho provisão".
A formiga quis ceder
Pois tinha bom coração,
Mas achou que era hora
De aplicar uma lição.
E perguntou à cigarra:
- No inverno, o que fazias?
A cigarra respondeu:
- Eu canto todos os dias!
"E por viver a cantar
Não ligo para o sustento,
Agora o inverno chegou
E eu vim pedir alimento".
A formiga ouviu tudo
E respondeu sem demora:
-"Cantavas? Pois muito bem,
Aproveita e dança, agora!"
***
Maria do Socorro Domingos dos Santos Silva
João Pessoa, 07/08/2016