BOBO DA CORTE
I
Eu sou pessoa pacata,
Filho forte de Yemanjá,
Nunca nego minha nata,
Nem pra ficar sem maná
E sambar um rococó;
Bolo-tó, bolo-tó-bó,
Eu sou eu e o que que há?!
II
Mas como tem gente chata,
Isso é aqui e acolá,
Quanta pessoa insensata!
Tô que tô e tu tá que tá,
Canário enfrenta curió;
Bolo-tó, bolo-tó-bó,
Eu sou eu e o que que há?!
III
A vida não é barata,
O baratão só tem lá,
Onde Judas é uma errata
E se espicha no sofá,
Na garganta dando um nó;
Bolo-tó, bolo-tó-bó,
Eu sou eu e o que que há?!
IV
Falta lhe faz uma gata
Àquele gato angorá,
Solidão lhe é ingrata,
Ele arranha um jacá
E lhe acode Pai Jacó;
Bolo-tó, bolo-tó-bó,
Eu sou eu e o que que há?!
V
Entraram os dois na mata,
Na certa foram naná,
Ela entregou-lhe sua lata,
Ele lhe deu o seu cará,
Ambos fizeram xodó;
Bolo-tó, bolo-tó-bó,
Eu sou eu e o que que há?!
VI
Logo ali há uma cascata
E ao lado um pé de ingá,
No céu um luar de prata
Da meia lua de Alá,
Tão só iluminando o pó;
Bolo-tó, bolo-tó-bó,
Eu sou eu e o que que há?!
VII
Quem chegou aqui de bata
Considera-se um Rajá,
Por isso dá de chibata
Até mesmo na babá
E dela nunca tem dó;
Bolo-tó, bolo-tó-bó,
Eu sou eu e o que que há?!
VIII
Diante duma mulata,
Vi sem cabeça o Mulá,
Que afrouxou a gravata,
Deu o mundo ao deus-dará
E foi esticando o cipó;
Bolo-tó, bolo-tó-bó,
Eu sou eu e o que que há?!
IX
Participei de passeata,
Gritando olé e olá,
Fui preso, fez-se uma ata,
E encontrei o meu xará,
Chorando no xilindró;
Bolo-tó, bolo-tó-bó,
Eu sou eu e o que há?!
X
Contei-lhes uma bravata,
Piada de um marajá,
Mas a vergonha me mata,
Pois risada ninguém dá,
Pensando que sou bocó;
Bolo-tó, bolo-tó-bó,
Eu sou eu e o que...que há...?!