Úmido Agreste
Olhando o árido horizonte
O Cavalo pressente o tempo
E por onde o vento aponte
Seu instinto o deixa atento
Trota feliz e alto relincha
Pra chuva que se aproxima
O fim da seca e do tormento
Já se alegra o fazendeiro
Entra em casa, beij'a esposa
Ara e aduba terra ligeiro
Janta angu e espera ansioso
E na noite olha pra cima
A boa chuva se aproxima
Para a colheita de agosto
No outro dia, é madrugada
O galo-rei canta inspirado
O cheiro de terra molhada
Faz a'legria do arretado
Com a esposa dança feliz
Então olha para os Céus e diz
Óh, meu Deus, muito obrigado!
A chuva chega de mansinho
Mas deixa a terra encharcada
O Velho corre no curral
E dá uma solta na boiada
E juntos vão lá pro pasto
Abençoar os pés com barro
Que se fez com a chuvarada
A plantação cresce bonita
Bem verdinha e vistosa
O Velho de lá do meio grita
E espanta a vaca Mimosa
Que foi comer o pé de feijão
O Velho vê e tem compaixão
Aproveita que é só agora
Chega agosto e tem colheita
Os filhos são convocados
Feijão graúdo e perfeito
Um caminhão tá carregado
O Velho vai rumo à cidade
Com toda a Felicidade
E vender feijão a doidado
O Velho senta e reflete
E agradece a Natureza
Chama a Joana e o Donizete
O Zé Raimundo e a Tereza
Mulher, prepara um banquete
Convidei os nossos parentes
Pra brindar na nossa mesa
E o esperançoso cavalo
Que falamos no começo
Está forte e vigoroso
Trotando que é uma beleza
O Alazão está bem contente
Com a égua reluzente
Que o Velho pôs nome de Alteza
E pra fechar este repente
Eu vou falar mais empolgado
O Velho nos dá um presente
Pede pra eu lhes dar o recado
Ele a esposa nos convida
Para ir lá na caatinga
Ver o agreste esverdeado.