Contos do São João
Haja carne e aguardente
Pra manter a noite quente
Na festa de São João
I
Com uma brasa o fogo atiça
Agarrada num braseiro
Iça fogo num rabeiro
Embebido de azeite
Da castanha, o turvo leite
Faz o fogo espocar
Na fogueira estalar
Sem precisar chegar perto
Com astúcia Zé Roberto
Vai ariscar o rojão
Pendurado num cordão
Por cima do fogo rente
Haja carne e aguardente
Pra manter a noite quente
Na festa de São João
II
Sapecando a alvenaria
Com estilhaços de brasa
Com fuligem e com fumaça
Respaldo de lenha pume
Que escapou do curtume
Da casca da aroeira
Mas se deitou na fogueira
Como fosse lenha nobre
Muito fumo há que sobre
Vai ao fogo de montão
Até encardir o chão
E arder nos "zói" da gente
Haja carne e aguardente
Pra manter a noite quente
Na festa de São João
III
Maria e Van de Crioula
Parece até que tô vendo
Desde cedo tão bebendo
Lá no bar de João Nogueira
Bem debaixo da mangueira
Onde um porco se escalda
Chega a banha se esbalda
Pra chiar na tacha preta
E as espigas da colheita
Da vargem do Ribeirão
Tem pamonha e tem quentão
Pra cobrir o chão de gente
Haja carne e aguardente
Pra manter a noite quente
Na festa de São João
IV
Na Vila dos Três Angicos
Onde a areia é fria e fofa
Tem barriguda balofa
E oiticica cheirosa
Tem alecrim e tem rosa
Por cima da cerca velha
No quarador lá de Zélia
Tem folha seca e estrume
Tem carrapicho e tem cume
De formigueiro zangão
Sei que lá não falta chão
Pra dançar que nem serpente
Haja carne e aguardente
Pra manter a noite quente
Na festa de São João.