Chifre trocado não dói

Enquanto a água do café está no fogo

Vou varrendo o terreiro

Arrancando o mato da entrada

Folhas amareladas do limoeiro

Troco à água dos passarinhos

Que dó tenho dos bichinhos

Triste vicio de mateiro

No batente da porta

Um gato velho esparramado

Deitado que nem um porco

Ô bicho preguiçoso desgraçado

Vou dar um tapa no “fucin”

O peste levanta e se esfrega em mim

É muito manhoso o danado

Empurro o bicho pra lá

Passo pra dentro da sala

Só tem duas cadeiras velhas

Um banco quebrado de Opala

No armador pendurada uma rede

Uma sela velha, uma espingarda na parede

Êta pobreza danada

O cheiro que vem da cozinha

Nem parece ser o que é

O aroma que sai das panelas

Se mistura com o odor do café

Tem andú, língua de vaca e batata

Cozido com um quarto traseiro de paca

Caçada lá pras bandas do coroné

Atrás da casa havia um bom curral

Hoje se resume apenas em um mourão

Faz pouco tempo tinha gado confinado

Cabra, ovelha, duas porcas e um barrão

Tudo se acabou com Gracinha

O amor junto com tudo que eu tinha

Virou essa solidão

Por isso não falei do quarto

Choro só de lembrar

Ainda está do mesmo jeito

Nunca entrei nem pra arrumar

Isso me parte o coração

Dentro da bota de Tiziu no chão

A calcinha de Gracinha foi parar

A praga que joguei foi das boas

Mas não tenho como negar

Desejo que tu se apaixone por ela

Quero ver se tu vai aguentar

Porque eu vou buscar Gracinha

Posso ser corno, mas Graça é minha

E as pontas você me ajuda a carregar.

São Paulo. Vigésimo terceiro dia do mês de São João de dois mil e dezesseis, ano do nosso senhor Jesus Cristo.

Laudo Costa

Laudo Costa
Enviado por Laudo Costa em 23/06/2016
Código do texto: T5676083
Classificação de conteúdo: seguro