O casamento de Zé Bodega
Zé Bodega andava triste
E na vida não tinha rumo
Era muito desmantelado
E não tinha o menor prumo
Pois a farra era a companhia
Que trazia a falsa alegria
Com cachaça, mulher e fumo.
Todo dia, a mesma coisa,
Já tinha virado rotina,
Acordava desconsolado
E seguia aquela sina
De viver nessa solidão
Sem ninguém no coração,
Tristonho baixava a crina.
Um dia Chico preguento
Irmão de Toin Mocotó
Veio chamar Zé Bodega
Para ir num grande forró
Na casa de João Baladeira
No sitio tóra brejeira
Com a banda de Zé Cafundó.
Então Zé disse, na hora!
Hoje eu to animado!
Vou já é me preparar
Pra ficar bem arrumado,
Botar a roupa e o cheiro
Pra sair de casa, solteiro
E voltar um homem casado.
Arrumado, ficou no grau
De fazer a mulher feliz,
O perfume que passou
Irritava qualquer nariz
E a roupa do véi Lavô
O seu finado avô,
Serviu, para o infeliz.
E saíram pela estrada,
Zé e Chico Preguento,
Caminhando no sertão
Levando açoite do vento
Chegaram lá no forró
Cansado que nem mocó
Andando num passo lento.
A festa já tava ”truando”
E o salão muito animado
Era tanta mulher bonita
De ficar admirado,
E tanto marmanjo “fei”
Que Zé parecia um rei
Naquele tosco reinado.
E quando a banda tocou
Um xote do Gonzagão
Todo povo se animou
E a poeira saiu do chão,
E os “caba” foram tirar
As meninas pra dançar
Lá no centro do salão.
E Nisso, Zé Bodega
Só olhando o movimento
Ficou muito animado
E disse para Preguento
“Eu vou já é procurar
Uma nega pra dançar
E não vou perder meu tempo.
E saiu pelo salão
Procurando uma via,
E quando olhou no fundo
Na banca de João Maria,
Estava uma princesa
Mostrando toda beleza
Que ele tanto queria.
O homem ficou foi doido
E disse pro coleguinha:
Vá ali, meu companheiro
No bar de dona mocinha
Comprar uma dose de mel
Pois agora caiu do céu
A minha abelha rainha.
Despistando o amigo
No meio da multidão,
Foi em busca da menina
E abriu seu coração
Chamando para dançar
Começou a enrolar,
Maria da encarnação.
Mas o que Zé não sabia
Ela disse, de repente,
“O meu pai nesse forró
É o homem mais valente
E se ele te encontrar
Querendo me conquistar
Dá uma surra na gente.
E Zé ficou mais gelado
Do que um fundo de rede,
Tremendo suas canelas
Parecia uma vara verde,
Pegou a moça na mão
E disse: tenho medo não,
Eu subo pela parede.
Então ela disse: José
Preste muita atenção,
Se meu pai vir um cabra
Pegando na minha mão
Ele bota é pra casar,
Mais se ele me obrigar,
Eu digo, num caso não.
E Zé muito esperto
Pensou: vou aproveitar
Que o velho é um bruto
E vou me agraciar
Casando com um pitéu
Que vai tirar o seu véu
Quando o padre abençoar.
Agarrou-se com Maria
Bem no meio do salão
E quando o velho viu
Foi grande a confusão
E pra não jogar na grade
Arrumou logo um padre
Pra fazer essa união.
Perguntou a Zé Bodega
Se ele tinha coragem
De cuidar de sua filha
Prezando pela imagem
E Zé logo respondeu
Pode deixar cum eu
Serei a sua paragem!
Trouxeram o padre Ciço
Pela camisa arrastado
Pois o nobre sacristão
Estava embriagado
Parecia gato cotó
Se torcendo no forró
Dançando despreocupado.
O padre se ajeitou
Pra começar o casamento
E serviram de testemunhas
O amigo Chico Preguento
E a velha dona do bar
Que veio se assinar
E tomar conhecimento.
O velho ficou do lado
Com a arma na cintura
Olhando pra Zé Bodega
Fazendo uma cara dura,
E Zé, tão feliz da vida
Ao lado da sua querida
Não perdia a compostura.
O padre disse umas coisa
E depois mandou beijar,
José agarrou Maria
E botou foi pra torar,
Tão gostoso como queijo
Aquele primeiro beijo
Foi logo para casar!
Robson Renato
15/06/2016