O JUDEU APERTA O CINTO
I
Era casado com Sara
O judeu Saulo Salim
O dia todo trabalhava
Na loja Anjo Serafim
Da qual ele era dono
Por ela perdia o sono
Devido ao tempo ruim.
II
Era a crise que enfim
Seu negócio atingiu
O seu lucro minguou
E ele quase que faliu
Teve que cortar despesa
Até o pão sobre a mesa
De tamanho diminuiu.
III
Sossegado não dormiu
Durante meses e anos
Os sete de vacas magras
Como reza os arcanos
Que o caçula de Jacó
José preso e o Faraó
Sonhando males e danos.
IV
Nem os profetas profanos
Nenhum mago foi capaz
De dar a tranquilidade
Ao Faraó pra ter paz
Continuava perturbado
Porquanto havia sonhado
Que o bem estar se desfaz.
V
Dizia: - O meu reino jaz
Prosperando na fartura
Mas o sonho que eu tive
Prenuncia desventura
Para um reino encantado
Que eu tenho assegurado
A todos sem amargura.
VI
Eis que numa noite escura
Tive um sonho inusitado
Foi mesmo um pesadelo
Que me deixou assustado
Via do alto da montanha
Uma cena muito estranha
Nesse meu sono sonhado.
VII
Sobre um cavalo montado
Vinha um peão conduzindo
Quatorze vacas leiteiras
Com um berrante zunindo
Na estrada cheia de poeira
Numa marcha boiadeira
Tão só para adiante indo.
VIII
O cenário era mui lindo
Até a metade da cena
Após sete vacas gordas
E sem nenhuma pequena
Passarem pela ermida
Porém logo em seguida
Turvou-se a bela arena.
IX
Para mim foi uma pena
É a história que consagra
Quando logo vislumbrei
A primeira vaca magra
E logo após outras seis
Sete vacas magras e eis
Que pressenti uma praga.
X
Este devaneio fraga
Saulo Salim divagando
Ele volta pra sua casa
Pós um dia trabalhando
Só encontra a empregada
Estafante e atarefada
O jantar já terminando.
XI
Sua esposa está viajando
Com os filhos num Cruzeiro
Sem esquentar a cabeça
E gastando o seu dinheiro
Ele tenso e bem cansado
Vai pro banho estressado
Pensando no travesseiro.
XII
Toma um banho ligeiro
E se senta pra jantar
Rachel a sua empregada
Ao redor e a rebolar
Pergunta por algo mais
E ele só diz: - Retire-se
Ao banheiro a se lavar.
XIII
O Saulo Salim Jantou
E até escovou os dentes
Mas ainda preocupado
Com a falta dos clientes
Da loja Anjo Serafim
Notou que não tinha fim
O banho de águas quentes.
XIV
No ínterim e entrementes
Bateu a porta do banheiro
- Abra a porta pra Salim
Ou desligue o chuveiro
- Mas seu Salim estou nua
Eu vou abrir, sou toda sua
E é seu meu corpo trigueiro.
XV
Salim qual um reposteiro
Diz: - Vou falar francamente
Você quer foder comigo
Sabendo-me Inadimplente?
Neste momento estou duro
Tão incerto é o meu futuro
Nada de bom vejo à frente.
XVI
E Rachel mui sorridente
Abre a porta do banheiro
E lhe diz: - Aqui estou eu
Aspire e sinta meu cheiro
Conquistei-o até que enfim
Serei sempre de Salim
E dane-se o mundo inteiro.
XVII
- Não quero gastar dinheiro
Nem estou pra brincadeira!
Diz Salim e já explicando:
- Posso até fazer besteira
A um judeu não instigue
Chuveiro logo desligue
E me feche essa torneira.