Proversos - A explicação em versos de cordel dos principais provérbios populares
Os principais provérbios populares explicados em versos de cordel – 1ª parte
Glosas em décimas com versos decassílabos.
Quem semeia vento colhe tempestade
Nossa vida é feita de opções
Mas é bom evitar as imprudências
Porque sempre virão as consequências
Resultantes de todas as ações
Os revezes da vida são lições
Que se deve aprender com humildade
A soberba, o orgulho e a vaidade
Poderão nos trazer mais sofrimento
Pois aquele que só semeia vento
No futuro só colhe tempestade
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura
Muita gente desiste de um sonho
Por querer o sucesso imediato
Mas ninguém nunca chega ao estrelato
Se nutrir pensamento tão bisonho
Se você pensa assim eu lhe proponho
Persistir e agir com paciência
O exemplo maior de eficiência
É a água que cai na pedra dura
Tanto bate que um dia lhe perfura
Demonstrando o valor da persistência
A preguiça é a chave da pobreza
O trabalho enobrece o cidadão
E permite viver com qualidade
Desenvolve qualquer sociedade
Porque gera riqueza pra nação
Não existe no mundo outra opção
Pra gerar bem estar e mais riqueza
Ao contrário, quem vive na moleza
Não consegue, no ócio, prosperar
Isso explica o ditado popular
A preguiça é a chave da pobreza
Dize-me com quem tu andas que eu te direi quem és
É preciso que sejas cauteloso
Quando fores andar com teus amigos
Porque tu correrás alguns perigos
Se acaso algum for mafioso
Vais andar num terreno perigoso
Arriscando sofrer algum revés
Tu terás o conceito das ralés
Que praticam as coisas mais nefandas
Se disseres a mim com quem tu andas
Eu direi prontamente quem tu és
Em terra de cego quem tem um olho é rei
Muitas vezes ninguém dá importância
Aos princípios antigos do saber
Quando alguém se dispõe a aprender
Seu conceito adquire relevância
Se destaca em meio à ignorância
Sua voz quase tem força de lei
É por isso que eu sempre serei
Defensor dessa tese que eu prego
Num lugar onde todo mundo é cego
Qualquer um com um olho será rei
Devagar se vai ao longe
Quem é coxo acorda e parte cedo
Pra com calma cumprir sua missão
Pois a pressa não leva à perfeição
Quanto a isso não há nenhum segredo
Mas quem age assim se conta a dedo.
Eu comparo o andar calmo do monge
Com o voo açodado da Cambonje*
O primeiro com calma a meta alcança
Já a ave com pressa logo cansa
Porque é devagar que se vai longe
*Saracura, galinha d’água
É melhor um pássaro na mão do que dois voando
Há pessoas que gostam de arriscar
Quando outras preferem segurança
Isso vai depender da confiança
Que se tem no poder de improvisar
Quem aposta nem sempre vai ganhar
Se perder vai ficar se lamentando
Não se deve viver sempre arriscando
Pois é ruim digerir a frustração
É melhor ter um pássaro na mão
Que sofrer por contar dois voando
Laranja madura na beira da estrada, está bichada ou tem maribondo no pé
Desconfie do que for fácil de mais
Pode ser que não tenha utilidade
Coisas fáceis não vêm com qualidade
E prometem vantagens irreais
Alguns casos já são proverbiais
Uma fruta madura, ou mesmo inchada
Numa planta na beira da estrada
Se eu vir eu já vou ficar supondo
Que no pé tem enxu de maribondo
Ou então essa fruta está bichada
Antes só do que mal acompanhado
Nenhum Ser é feliz sendo sozinho
E por isso buscamos companhia
Mas nem todos conseguem harmonia
Com aqueles que cruzam seu caminho
Muitas vezes até mesmo um vizinho
Não nos traz um convívio sossegado
Na família há parente complicado
No trabalho também há falsidades
É melhor ter rigor com as amizades
Antes só, do que mal acompanhado
Quem com porcos se mistura, farelo come
Se alguém se juntar com quem não presta
Vai a ele, em conceito se igualar
É assim que o povo irá julgar
Mesmo que a pessoa seja honesta
Vai levar essa fama indigesta
Atrelada pra sempre ao seu nome
Triste pecha que vem e jamais some
E com ela irá à sepultura
Quem com porco na vida se mistura
Vai comer do farelo que ele come
Farinha pouca, meu pirão primeiro
Por aí só se vê competição
As pessoas não são mais solidárias
E assumem posturas temerárias
Que maculam a boa educação
Cada um quer pegar o seu quinhão
De um modo bastante interesseiro
E repetem em tom quase grosseiro
Que o esperto não vai dormir de touca
Se notar que a farinha vai ser pouca
Vai querer, seu pirão, servir primeiro
É melhor prevenir do que remediar
Quando alguém valoriza a prevenção
E evita viver com imprudências
Minimiza o rigor das consequências
Que se deve esperar de toda ação
Se tiver que tomar uma decisão
É mais fácil os caminhos encontrar
Já alguém que prefere se arriscar
Se complica na hora de agir
Com certeza é melhor se prevenir
Porque é bem pior remediar
Uma andorinha só não faz verão
É difícil, sozinho, alguém mudar
Um conceito ou costume arraigado
Quem tentar vai penar um bom bocado
E não ver sua ideia prosperar
As pessoas precisam se juntar
Pra vencer com a força da união
Sem apoio as mudanças não virão
É só ver o exemplo da andorinha
Se a gente encontrar uma sozinha
Vai partir, porque só, não faz verão
Dinheiro não traz felicidade
Com dinheiro se compra bem-estar
Se promove o avanço da ciência
Mas não supre em nós uma carência
Que dinheiro nenhum pode comprar
Como o amor, a saúde e a paz de um lar
Nem tampouco um amigo de verdade
Ninguém deve passar necessidade
Mas quem faz do dinheiro o seu juiz
Vai viver abastado e infeliz
Pois dinheiro não traz felicidade
O que os olhos não veem, o coração não sente
Jesus disse - “É bem-aventurado”
Quem não viu, mesmo assim acreditou
Pois Tomé, dos amigos duvidou
Que Jesus tinha, assim, ressuscitado
Mas Tomé foi, por Ele, perdoado
Por ter sido um apóstolo descrente
Hoje em dia não é tão diferente
Não se deve julgar os que não creem
Pois é certo que o que os olhos não veem
Normalmente o coração não sente
2ª parte
Glosas em décimas com versos setissílabos
Quem não chora não mama
O bebê recém-nascido
Como não sabe falar
Chora quando quer mamar
E assim é atendido
Se você é esquecido
Fica quieto e não reclama
Vai viver o mesmo drama
Sem conseguir seu direito
Solte a voz do mesmo jeito
Pois quem não chora não mama
De grão em grão a galinha enche o papo
O sujeito perdulário
Com instinto consumista
Compra tudo o que avista
À vista ou no crediário
E gasta todo o salário
Dessa armadilha eu escapo
Meu salário eu não solapo
Guardo sempre algum tostão
Porque é de grão em grão
Que a galinha enche o papo
Quem não tem cão caça como gato
Muitas vezes pela vida
Não temos com quem contar
E temos que nos virar
Pra encontrar a saída
A pessoa decidida
Resolve tudo no ato
Se está só encara o fato
E encontra a solução
Aquele que não tem cão
Caça mesmo como gato
Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca termine
Nada na vida é eterno
Vai-se o sorriso e a dor
Cai o espinho e a flor
Passa verão e inverno
O antigo foi moderno
A vida assim se define
Não há o que se imagine
Que para sempre perdure
Não há bem que sempre dure
Nem mal que nunca termine
Depois da tempestade vem a bonança
Todo mundo nesta vida
Passa por um mau momento
Na hora do sofrimento
A pessoa destemida
Não deve ficar perdida
Nem perder a confiança
Mantém a perseverança
E vence a dificuldade
Depois de uma tempestade
Vem o tempo da bonança
É na necessidade que se conhece o amigo
Amigo de ocasião
De cachaça ou virtual
Hoje é algo tão normal
Que a gente tem de porção
Quem não prestar atenção
Incorre em grande perigo
Pode sofrer o castigo
Por uma falsa amizade
Pois é na necessidade
Que se conhece o amigo
Em boca fechada não entra mosquito
O bom interlocutor
Sabe a hora de calar
De ouvir e de falar
Sempre em tom respeitador
Do contrário, o falador
Poderá criar conflito
E se tornar um proscrito
Por sua língua afiada
Porque em boca fechada
Nunca vai entrar mosquito
A cavalo dado não se olha os dentes
Se alguém te oferecer
Um presente ou doação
Demonstra a gratidão
No ato de receber
Não deves desmerecer
O valor de um presente
Nem ficar indiferente
Mesmo não tendo gostado
Porque a cavalo dado
Não se deve olhar os dentes
Casa de ferreiro espeto de pau
Alguns profissionais
Zelosos na profissão
Trabalham com perfeição
Nos vínculos contratuais
Nas suas casas, jamais
Capricham no mesmo grau
Não cuidam nem do degrau
Por isso que o brasileiro
Diz que em casa de ferreiro
Se usa espeto de pau
Quem com ferro fere, com ferro será ferido
É preciso ter cuidado
Com palavras e ações
Respeitar opiniões
Ser gentil e educado
Aquilo que for falado
Também pode ser ouvido
Um insulto proferido
Quem ouviu, também profere
Porque quem com ferro fere
Com ferro será ferido
Cobra que não anda não engole sapo
A pessoa comodista
Não consegue ter sucesso
Perde o bonde do progresso
Nada na vida conquista
Já aquela idealista
É um verdadeiro guapo*
A vitória está no papo
Pois seu destino comanda
Porque cobra que não anda
Não consegue engolir sapo
*Corajoso, ousado, valente
Cada um é que sabe onde o sapato lhe aperta
Não devemos condenar
O comportamento alheio
Esse é um costume feio
Que se deve abandonar
Cada um pode levar
A sua dor encoberta
A atitude mais certa
É torcer que a dor acabe
Pois cada um é que sabe
Onde o sapato lhe aperta
Quem vê cara não vê coração
É preciso ter cuidado
Ao julgar as aparências
Pois uma das consequências
É se sentir enganado
Tem bandido disfarçado
De honesto cidadão
E gente boa que não
Suas virtudes declara
A gente só vê a cara
Mas não vê o coração
Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão
Na nossa sociedade
Há um consenso geral
Se alguém causou um mal
E vive na impunidade
Se lhe fizerem maldade
Quem a fez tá perdoado
Pois já está prolatado
Ladrão que rouba ladrão
Tem cem anos de perdão
Nem precisa ser julgado
Panela velha é que faz comida boa
Não se deve desprezar
O valor da experiência
Maturidade é ciência
Que não precisa estudar
Quem nesse nível chegar
Não envelheceu à toa
O estúpido que caçoa
A ele não se assemelha
Porque a panela velha
É que faz comida boa
Pra cavalo velho, o remédio é capim novo
A velhice traz com ela
Profundas limitações
Que dificultam as ações
Em uma fase tão bela
Pra curar essa sequela
Que leva o sujeito ao tédio
Somente por intermédio
Dos gostos de um rapazelho*
Porque pra cavalo velho
Capim novo é o remédio
*Rapazote, rapazola, adolescente
Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas
O bucho do jacaré
É sua parte mais fraca
É onde a piranha ataca
Se o bicho for “mané”
Quem age de boa fé
Com as fraquezas expostas
Será retalhado em postas
Assado na própria banha
Em rio que tem piranha
Jacaré nada de costas
Águas passadas não movem moinho
Quem fica preso ao passado
Recordando o que passou
Na vida estacionou
E é logo ultrapassado
Já quem deu por superado
Um tempo que foi mesquinho
E seguiu o seu caminho
Teve as metas alcançadas
Porque as águas passadas
Não movem mais o moinho
Papagaio come milho, periquito leva a fama
É comum se observar
Um sujeito poderoso
Usar de meio doloso
Pra sua culpa ocultar
E sem receio jogar
Um inocente na lama
Se o coitado não reclama
Vai pagar pelo caudilho*
Papagaio como milho
Periquito leva a fama
*Chefe de facção política, ditador
Quem ri por último ri melhor
Uma batalha vencida
Não leva ninguém à glória
Pois só se conta a vitória
Com a guerra concluída
Pelas batalhas da vida
Seja o Comandante Mor
E se levar a pior
Nunca pense em desistir
Pois o último que sorrir
É o que rirá melhor
Aqui se faz, aqui se paga
Todas as nossas ações
Sempre trazem consequência
Quem esperar indulgência
Por seus atos e omissões
Viverá de ilusões
Pois sua mente divaga
A mão da lei não afaga
Nem a sentença desfaz
Tudo o que aqui se faz
Aqui mesmo a gente paga