ETERNA ASSOMBRAÇÃO
Miguezim de Princesa
I
Quem estava acostumado
A desmandar com esmero,
Nomear e demitir
E comandar o vespeiro
Já começa a falar fino
E entrar em desespero.
II
Desde a década de sessenta
Nas terras do Maranhão,
Substituiu Vitorino
O homem do bigodão,
Que “comeu” na ditadura
E na redemocratização.
III
Vivia com os generais,
Aquele sorriso aberto
Nas asas de uma graúna,
Um pássaro preto esperto,
Quando o regime afracou,
Zé Sarney saiu de perto.
IV
Abraçou-se com Tancredo,
De novo mostrando os dentes,
Secou tanto o candidato
Da terra de Tiradentes
Que Tancredo morreu logo
E ele virou presidente.
V
Quase arrebenta o Brasil,
Falando em democracia:
-Brasileiiiiras, brasileiiiiros -,
Toda noite ele dizia
E o Brasil se acabando
Na pior das carestias.
VI
Quando veio a era Collor,
Bigodão ficou lascado,
Mas, bem por baixo do pano,
Tudo bem articulado,
Pelo homem do topete
O Brasil foi governado.
VII
Depois de Collor apeado,
Veio o mineiro Itamar,
Com jeito de come-quieto,
Mexe aqui, mexe acolá,
Sarney retornou com força,
Mandando no Amapá.
VIII
Com FHC e Lula,
Mandou de não poder mais:
Mandava na Eletronorte,
Mandava na Eletrobrás
E com Machado mandava
De novo na Petrobras.
IX
Com Dilma nada mudou,
Pois Sarney, sem atrapalho,
Fez o que quis no Senado,
Só balançando o chocalho,
E depois de aposentado
Dava as cartas do baralho.
X
Então, veio a Lavajato,
Levou tudo de roldão,
Da esquerda da direita
Do centro e da contramão,
Toda vaidade é morta
Quando ela bate na porta
Como uma eterna assombração.