Tiziu, Enganou a morte ou foi enganado?

Como vou falar da morte

Se nem tenho como explicar

A morte levou Toínho

Que vivia ajoelhado no altar

Não jogava bola, não ia a bingo

Igual à porca no parafuso luindo

Toínho tava na igreja a rezar

O que dizer de Juvenal

Carpinteiro e encanador

Pedreiro nas horas vagas

Coroinha de muito amor

A morte chegou rasteira

Derrubou lhe de uma cadeira

E apresentou-o ao nosso senhor

Dona Rita eu lembro bem

Batizei seu filho e virei compadre

Rita tinha um querem bem

Lavava até roupas do padre

Ficou cega da noite pra o dia

O tinhoso matou de agonia

Eu perdi minha comadre

Chico, o bodegueiro

Também tentou escapar

Desentupiu o coração

Até voltar a respirar

Pobre Chico sem sorte

Mal sabia que a morte

Deixou o coração devagar

Chegou a vez de Tiziu

Um cachaceiro c* de cana

Tiziu caiu de uma moto

Ficou entrevado na cama

No dia da sua morte

Implorou e agradeceu pela sorte

De ficar sem trabalhar uma semana

Êta bebo véio cagado

Êta bêbo véio de sorte

O homem foi melhorando

Não tinha mais medo da morte

Hoje anda por um fio

Ninguém ia chorar por Tiziu

Compadeceu a própria morte.

São Paulo, Segundo dia do mês das noivas de dois mil e dezesseis, ano do nosso senhor Jesus Cristo.

Laudo Costa.

Laudo Costa
Enviado por Laudo Costa em 02/05/2016
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