AS MENTIRAS DE ABDIAS E AS VERDADES DE SEU IRMÃO:
Em uma terra distante
Lá pras bandas do sertão,
Morava um fazendeiro
Conhecido por seu João,
Homem forte e corajoso
Bem quisto por todo povo
Que tinha na região.
A fazenda foi herança
Do seu pai quando morreu,
É casado com Amélia
Uma moça muito bela
Que bem jovem conheceu,
E dessa linda união
Três filhos ela lhe deu.
Dois meninos e uma menina
Muito bela e formosa
Ana Néri é o nome dela,
Quem a via se encantava
Por ser muito majestosa,
Mas ainda não é ela
O pivô dessa História.
O filho mais velho é Jozildo
Tem muita personalidade,
Com ele não tem mentiras
Só fala o que for verdade,
É o orgulho de seus pais
Por ser muito estudioso
E por sua lealdade.
O do meio é Abdias
Um menino inteligente,
Criativo e esperto,
Destemido e valente,
Porém muito astucioso,
Malandro e mentiroso,
Preguiçoso e prepotente.
Por ser o filho mais velho
Jozildo tinha missão,
De cuidar de sua irmã
E olhar o seu irmão,
Que não parava quieto
Corria, batia as portas,
Parecia um furacão.
Mas apesar disso tudo
Tinha muita inocência,
Fazia suas travessuras
Sem pensar nas consequências,
Depois pedia desculpas,
Chorava com a sua culpa
Prometendo obediência.
Abdias era tinhoso
E muito malevolente,
Mesmo com pouca idade
Mostrava-se diferente,
Fazia suas traquinagens
E ria do seu irmão
Por ser muito inocente.
Um dia seu João chegou
E logo que saiu do carro,
Ele chorando lhe disse
Papai mate aquele gato!
Ele me arranhou todinho
Porque fui salvar o pintinho
Que ele tinha agarrado.
Nisso chegou dona Amélia
E segurou o menino
Com uma raiva danada
Perguntando e repetindo
O que foi que você fez
Com o pintinho pequeno
E o gato do vizinho?
Ele baixou a cabeça
E falou em tom baixinho
Não fiz nada, não senhora,
Eu só peguei o bichinho
Da boca daquele gato,
Que é um bicho malvado,
E dei um banho no pintinho.
Logo Jozildo chegou
Tremendo e desfigurado
Dizendo ele arranhou-se
Quando pulou o cercado
Para matar o gatinho
Depois que pegou o pintinho
E jogou dentro do lago.
Seu João fechou os olhos
Botou a mão na cabeça
Estava corado de raiva
E ao mesmo tempo tristeza,
Botou a culpa em Amélia
Dizendo assim para ela,
Você tem que ter firmeza.
Dona Amélia chamou Jozildo
E disse pegue Abdias
Leve ele para o quarto
Até que se finde o dia,
Quando ele estiver com fome
Dê a ele como lanche
Mamão-papaia e melância.
Sabia que ele não gostava
De nem uma dessas frutas,
Pra ele era um castigo
Pela sua má conduta,
Mas o menino Abdias
Já tinha em sua mente
Mais uma de suas astucias.
Abdias em seu quarto
Chorava muito e gemia
O choro era tão alto
Que da sala se ouvia
Seu João não aguentou
Chamou Amélia e mandou
E ver o que acontecia.
Quando Amélia chegou ao quarto
Perguntou ao menino
O que está acontecendo
Responda filho querido?
Ele respondeu chorando
Estou todo me coçando
E a culpa é do Jozildo.
O que foi que ele fez
Pra você tá desse jeito?
Já estar ficando roco,
Está todo descabelado,
Gritando desesperado,
Diga-me logo de uma vez
O que ele fez de errado?
Ele pra ela falou,
Minha mãezinha querida
Estou todo me coçando,
No estomago uma azia,
É grande minha agonia,
Acho que Jozildo botou
Pimenta na melancia.
Amélia não acreditava
No que o filho dizia,
E que era sua invenção,
Ela também já sabia,
Mas diante de tantas lagrimas
De uma criança inocente,
Ela se compadecia.
Disse ela, eu prometo,
Que vou com seu pai falar
Só me dê mais um tempinho
Pra ele se acalmar,
Tome um banho e se deite,
Fique calado e quietinho
Pra ele não se estressar.
Abdias se acalmou,
Não sentia mais coceira,
O queimou também passou,
Tomou banho e foi se deitar,
Como a mãe lhe ordenou,
Se sentindo satisfeito
Com tudo que inventou.
Alguns minutos depois
Chegou Jozildo amuado,
Dizendo já pode sair do quarto
Por causa da nossa mãe
Desta vez foste poupado,
Só não vá mentir de novo
Seu amarelo mimado.
Abdias sorriu contente
Pulou da cama no chão
Agradecendo a Jesus
E abraçando seu irmão,
Dizendo eu te prometo
Que de hoje pra amanhã
Eu não vou mentir mais não.
No outro dia Amélia
Chamou os três e falou,
Vou a cidade comprar
Mantimento que faltou,
Não me demoro a chegar
Mas enquanto eu estiver fora
Se comportem, por favor.
Abdias como sempre
Se fazendo de bonzinho,
Juntinho de Ana Neri
Sentado e bem quietinho,
Enquanto seu pensamento
Maquinava o que fazer
Quando estivesse sozinho.
Estava tudo tranquilo
Ana Neri adormecida,
Dona Joana na cozinha
Preparando a comida,
Jozildo estava em seu quarto
Fazendo suas tarefas
E lendo sua cartilha.
Enquanto isso Abdias
Foi brincar lá no terreiro
Com seu cavalo de pau,
Agitando os cachorros
E também o galinheiro,
Foi quando teve a ideia
De ir brincar no celeiro.
Passaram-se algumas horas
Dele ninguém se lembrou,
Só apareceu em casa
Quando sua mãe chegou,
Todo sujo, arrepiado,
Na calça tinha um rasgo,
Mas na mão tinha uma flor.
Estendeu a flor e disse,
É pra você mamãezinha
Fui eu mesmo que colhe
Lá no jardim da vizinha,
Ela convidou á senhora
Para comer tapioca
Lá pra de tardinha.
Aí chegou seu irmão
Mais uma vez irritado,
E disse tudo é mentira
Desse moleque levado,
Ele pulou o cercado
E caiu dentro do barreiro,
Por isso ele está molhado.
E ainda achou pouco
Escondeu-se no celeiro
Pra mexer com as galinhas,
Depois que quebrou os ovos
E tangeu as coitadinhas,
Foi pra dentro do chiqueiro
E soltou as cabritinhas.
No quintal de dona Inácia
Caladinho ele entrou
Foi no pé de maracujá
Um a um ele arrancou,
Virou a gamela dos porcos,
Quebrou a tigela dos patos,
E a água derramou.
A dona Inácia, coitada,
Apavorada ficou,
Quando viu o desmantelo
De raiva se arroxeou,
Sem saber o que fazer
Gritou para me dizer,
Leve-o daqui, por favor.
Abdias como sempre
Tudo estava a escutar,
Já esperando o castigo
Que a mãe ia lhe dar,
Saiu bem devagarinho
Tomou banho caladinho
E depois foi se deitar.
Quando Amélia chegou
Na casa de dona Inácia
Pediu desculpas pra ela
Disse está envergonhada,
E as duas acharam até graça
Do jeito como Abdias
Fazia aquela arruaça.
Minha avó sempre dizia,
Os filhos são como a mão,
Assim como os dez dedos,
Cada um é diferente,
Não importa quantos são,
Nem um deles é igual,
Embora todos sejam irmãos.
Mas como é de costume
Toda criança brincar,
Fazer suas estripulias
E depois se desculpar,
Abdias vai crescer
E depois nos vamos ver
O homem que vai se tornar.