Prosa de cumpades
(Linguagem matuta)
Autor: Edmilton Torres
I
Cumpade Ciço me diga
Uma coisa por favor
Se souber fale a verdade
Que é coisa que dou valor
Por que é que Pinto-sem-asa
Entra e sai da sua casa
Com um chapéu do senhor?
II
O que é que tu tá dizendo?
Cumpade deixe de prosa
Essa estória é muito séria
Dá confusão perigosa
Isso é coisa que tu visse
Ou fofoca que ouvisse
Dessa mundiça invejosa
III
Cumpade, qualquer um vê
É só abrir as pestana
Faz uns três mês que acontece
É quase toda semana
E passa a manhã inteira
Quando o senhor vai pra feira
Com o caçuá de banana
IV
Cumpade Pêdo, licença
Volto já, não se aperrei
Eu vou falar com Zefinha
Pois agora me lembrei
Eu tava até esquecido
Mas tem um chapéu sumido
Dos quatro que eu comprei
V
Pêdo pensou ir embora
Mas deixou Ciço voltar
Tava meio arrependido
Porque resolveu contar
Essa estória para Ciço
Com medo do rebuliço
Que podia provocar
VI
Não deu nem vinte minutos
Ciço voltou escanchado
Na garupa de uma moto
Guiada por seu cunhado
Disse que ia na casa
Do tal do Pinto-sem-asa
E parecia enfezado
VII
Pêdo quando ouviu aquilo
Ficou muito aperreado
Se se desse uma desgraça
Se sentiria culpado
Por ter se metido nessa
Mas Ciço foi tão depressa
Nem viu se ele tava armado
VIII
Pêdo então voltou pra casa
Com uma comiseração
A consciência pesada
Aperto no coração
Ficou lá se lamentando
Quando viu Ciço chegando
Com o dito chapéu na mão
IX
Quando viu Ciço chegar
Com seu jeito vaidoso
E exibindo o chapéu
Com um ar vitorioso
Pêdo viu nessa vitória
Que aquela triste estória
Teve um final desastroso
X
Cumpade Ciço, por Deus
O senhor enlouqueceu?
Como está Pinto-sem-asa?
Não diga que ele morreu
O que foi que o senhor fez
Me conte logo de vez
O que foi que aconteceu?
XI
Compadre deixe de drama
Não foi nada disso não
O desgramado tá vivo
Só lhe dei uma lição
Que é pra pinto-sem-asa
Não pensar que minha casa
É Cu de Mãe Joana, não
XII
Meu cumpade, ainda bem
Estou mais aliviado
Pelo menos não morreu
Mas, tá muito machucado?
Se estiver muito ferido
Precisa ser socorrido
Tô me sentindo culpado
XIII
Home deixe de tolice
Cumpade se avexe não
Quando falei com Zefinha
Ela deu a explicação
Um dia Pinto-sem-asa
Vei até a minha casa
Pra pagar uma transação
XIV
Eu tinha ido pra feira
Quando aquele abestalhado
Vei pagar umas bananas
Que ele tinha comprado
Caía uma garoinha
E ele pediu a Zefinha
O meu chapéu emprestado
XV
Entonce toda semana
Na minha casa ele vinha
Trazer o chapéu de volta
Pra devolver pra Zefinha
Mas, danado pra esquecer
Voltava sem devolver
Ôh! juízo de galinha
XVI
Foi então que eu resolvi
Ir falar com o bobalhão
Agora Pinto-sem-asa
Não precisa vir mais não
Fui atrás do tabaréu
Pra buscar o meu chapéu
E encerrei a questão
XVII
Compadre Ciço o senhor
É um marido exemplar
Cumade Zefa é feliz
Não tem do que reclamar
Mas vou lhe dar um conselho
Se olhe bem no espelho
Quando for se pentear