Donos da verdade.

Esqueci de um conselho

Dado por um aleijado

Para não por o bedelho

Onde não fosse chamado

Não ouvi o seu apelo

Acabei encarcerado.

Nunca fui um criminoso

Também nunca fui comparsa

Apesar de ser nervoso

Eu jamais usei trapaça

Mas num dia embaraçoso

Acabei preso por farsa.

Eu falei o que podia

Sobre o que era indagado

Eu não disse o que sabia

Por estar preocupado

O delegado dizia

Que eu seria processado.

Falei sem comprometer

Tinha medo da vingança

Depois me mandou prender

Não pude pagar fiança

E pra me comprometer

Disse que usei criança.

Eu fiquei encarcerado

A espera do juiz

Todo dia o delegado

Perguntava o que eu fiz

Já estava acostumado

Com aquilo que ele diz.

Mas um dia o encarei

Disse então que me exponha

Eu direi tudo o que sei

E farei que se componha

Ao juiz também direi

Que você não tem vergonha.

Vou falar para o juiz

Que aqui se faz tortura

Direi que tem aprendiz

Que a culpa não apura

Você não é o que diz

Sequer sabe o que é lisura.

O delegado sorriu

Prometeu me arruinar

Isso um soldado ouvir

Veio me ameaçar

Eu disse que o que viu

Está só pra começar.

Um dia um advogado

Veio pra me defender

Estava todo enrolado

Era refém do poder

Eu disse muito obrigado

Sou escravo do dever.

Meu dever é relatar

Todo o acontecido

Nada eu vou aumentar

Quero ver esclarecido

Pro juiz eu vou falar

Que você é corrompido.

Esse doutor deu no pé

Foi falar com o promotor

Que julgava ser pajé

Da tribo de malfeitor

Os dois falaram até

Que eu sou um delator.

Um dia fui ao juiz

Mas fiquei observando

Perguntou o que eu fiz

Para o promotor olhando

Respondi que nada fiz

Ele respondeu gritando.

Pensa que sou idiota?

Você está enganado!

Apontou para a porta

E mandou vir o soldado

Disse que não me suporta

E eu estava condenado.

Eu lhe disse: seu doutor

Não estou preocupado

Seu poder de julgador

Está sendo contestado

Sol lhe peço por favor

Não negue estar avisado.

Ele me olhou irado

Pois temia o tribunal

O promotor assustado

Olhava como animal

E o pobre advogado

Não sabia o seu final.

Requeri a correção

Indicando o coator

Fui levado em camburão

Ao juiz corregedor

Que comunicou então

Eu ser colaborador.

Os fatos foram apurados

Eu ganhei dignidade

Todos foram processados

Cumprem pena em liberdade

Nunca mais foram olhados

Como donos da verdade.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 10/04/2016
Código do texto: T5600590
Classificação de conteúdo: seguro