Almas em leilão.
Num deserto de amor
Ia haver grande leilão
Pra vender só dissabor
Ódio, dor e solidão
Para o lance vencedor
O preço era promoção.
Para os interessados
Nos produtos oferecidos
Tudo estava detalhado
Nos que não foram vendidos
Os que estavam estragados
Iam ser reconstruídos.
Ao chegar o leiloeiro
Ele deu o seu recado
Aqui não entra dinheiro
Mas se paga adiantado
Ninguém vai falar primeiro
De um pobre endividado.
O primeiro que lançar
Vai pagar a conta inteira
E não pode reclamar
Nem ficar com choradeira
Quem quiser continuar
Fique na sua cadeira.
Levantou logo o orgulho
Disse que não vai lançar
A seguir houve um esbulho
De alguém que a reclamar
Escondia em um embrulho
Algo que não vai mostrar.
Em seguida a vaidade
Disse que vai desistir
Gosta de tranquilidade
Preferiu pra casa ir
Convidou a falsidade
Pra com ela se unir.
Depois veio a solidão
Pra fazer primeiro lance
Mas pensou melhor e não
Permitiu nem de relance
Que alguém pusesse a mão
Sobre a paz ao seu alcance.
Chegou depois a saudade
Dizendo nada querer
Encontrou a claridade
Que pensou nunca mais ter
Na sua simplicidade
Não conseguiu esquecer.
Logo então veio o amor
Preparado pra lançar
Foi ouvir um lavrador
Que estava a debochar
De um mau compositor
Que não sabia rimar.
Foi ouvir um empresário
Que pensava em seu dinheiro
Disse a ele que o salário
Nunca deu pro mês inteiro
Assim mesmo o seu diário
Tinha pontos verdadeiros.
Foi ouvir um inocente
Que chorava sem parar
Perguntou o que ele sente
Ele disse a reclamar
Minha mãe está ausente
Não consigo lhe encontrar.
Foi ouvir um jogador
Que perdeu sua fortuna
Disse ser mau pagador
E ser dono da escuna
Que escondeu do cobrador
Enterrando numa duna.
Foi ouvindo outros mais
Cada um com seu problema
Quando então olhou pra trás
Percebeu grande dilema
Vinha chegando a paz
De uma criança pequena.
O amor interrogou
O garoto adormecido
Quando então ele acordou
Disse estar estarrecido
Pois ninguém o ajudou
A cumprir o prometido.
O amor lhe perguntou
Qual seria o compromisso
O garoto retrucou
Acabar com todo vício
Foi pra isso que voltou
Mas caiu no precipício.
O amor deu o seu lance
Disse que ia comprar
Toda alma que se lance
Ao trabalho de ajudar
Mesmo que depois se canse
E decida retornar.
As almas arrematadas
Com o lance do amor
Sempre foram respeitadas
Têm no céu justo valor
Já nasceram preparadas
Pra servir ao Criador.