O ANDARILHO.
Guando eu era menino
Era magrelo e feio
De tudo tinha receio
Sofria do intestino
O meu gogo era fino
Tinha os olhos amarelo
Era demente e banguelo
De roupa só tinha um pano
As orelhas era de abano
E o nariz de martelo.
Dormia em qualquer lugar
Fechava os olhos e sonhava
Que a minha alma estava
Em outro mundo há vagar
Não era de se estranhar
Eu também era um vivente
Possuía corpo e mente
Que gerava pensamento
Por isso um sentimento
Cruzava o meu batente.
A última vez que escutei
A minha vó me dizendo
"Para quem está morrendo
Ainda existe uma lei"
Com esforço decorei
E guardei essa verdade
E guando a dor me invade
Eu repito em segredo
Aí acaba o medo
E aduba minha vontade.
Ela dizia :"meu neto
Não dê o braço a torcer
Doa a quem doer
Não tema o desafeto
Seja valente e correto
Não deixe de respirar
Saiba pedir e esperar
Pois quem espera alcança
Acredite na aliança
Que Deus fez pra nos salvar.
"Jesus é sua Esperança
Não deixa o barco afundar
Então se ponha a orar
E guarde bem na lembrança
O amor a tudo alcança
A verdade jamais passará
O melhor ainda virá
Faça Dele o seu porto
Pois quem estiver morto
Assim mesmo viverá.
Na vida é tudo que tenho
Nada mais me restou
E tudo que me sobrou
Foi só o peso do lenho
Mais a verdade eu atenho
Topando a vida de frente
Sou um andarilho crente
Que dormi em banco de praça
Que vive só pela Graça
Do Todo Onipotente.
Aos outros sou invisível
Um traste com uma sacola
Mais nunca pedi esmola
Pra Deus tudo é possível
Sendo assim desprezível
Eu aprendi a lição
Que a fé,o amor e o perdão
Operam a qualquer custo
Não tem um filho de um justo
Que venha mendigar um pão.
Alguma coisa me dão
Não que eu esmole ou peça
Espano ou limpo um peça
Lavo ou limpo um chão
E de tostão em tostão
É que vou sobrevivendo
Com dor ou sem tá doendo
Eu não posso parar
Sem choro sem murmurar
Assim eu peno vivendo.
A morte não me consome
Luto enquanto houver vida
O meu ponto de partida
É onde acordo com fome
Então me lembro do Nome
Aí me ponho a orar
"Deus me venha zelar
Me mostre a direção
Que eu encontre uma mão
Que possa me ajudar.
Eu sei que há neste mundo
Gente pior do que eu
Que não aquentou e morreu
Num sofrimento profundo
Eu vivo segundo a segundo
Lutando contra o incerto
Mais sei que Deus tá por perto
Sem mostrar covardia
Me fazendo companhia
Mesmo nesse deserto.
Um andarilho é sozinho
mata o tempo andando
Por onde eu vou passando
Faço como o passarinho
Me arrancho em um ninho
Em baixo de um pontilhão
Me deito sobre um papelão
Assim eu me abandono
Pegando logo no sono
Sonhando sonho de chão.
O meu passado foi um sonho
O meu presente não sei
E meu futuro? lembrei!!
É a mesma coisa de agora
Não vivo olhando as horas
As datas só nos consomem
Depois elas se somem
levando a mocidade
Não sei da minha idade
tenho a idade de um homem.
Meu nome ninguém não sabe
Acho que é Zé ninguém
Um Zé qualquer que não tem
Lugar nenhum que lhe cabe
Que minha fé não se acabe
Que a paz em mim habite
Que meu espirito acredite
Que o mundo não me enjoe
Que Deus do céu me perdoe
Que a vida não me vomite.