MENINO NOVO E MENINO VELHO.
Guando eu era menino
Sentia o doce em tudo
No abacate carnudo
No mastigar do pepino
No orvalho matutino
Esfriando a seriguela
e na jaca amarela
Na rapa quente do tacho
pitomba presa no cacho
No araçá na janela.
Quando eu era criança
tudo era bem grandão
Era imenso o galpão
Que servia para dança
O prato sobre a balança
Eu via uma bacia
Tudo para mim crescia
na minha tenra idade
só via eternidade
a vida nunca morria.
Guando era inocente
maldade não era nada
Tinha a boca mudada
caia nascia dente
hora caia pra frente
Outra eu queria correr
Chorava pra mim socorrer
Com medo do bicho papão
Deitado em uma canção
Ate eu adormecer.
Hoje tudo eu largo
Não sinto o doce de antes
Os meu sentidos distantes
sentem insosso amargo
De vez em guando um trago
na aguardente, no vinho
Passo o tempo sozinho
Não sinto nada de doce
Tô velho vixe danosse
vejo o fim do caminho.
antes tudo era grande
Agora tudo é pequeno
Pra qualquer um que aceno
A vista pouco expande
Tô parecido com Gandhi
Careca bigode branco
tô arrastando tamanco
Foi embora vaidade
eu vivo só de saudade
aqui em riba do banco.
uma coisa ainda tem
guando era inocente
Na boca não tenho dente
e sou careca também
Tô igual a um neném
Chorando o que não mamou
e a fralda só aumentou
Ainda lembro a canção
E o tal bicho papão
Sou eu assim como estou.