MENINO NOVO E MENINO VELHO.

Guando eu era menino

Sentia o doce em tudo

No abacate carnudo

No mastigar do pepino

No orvalho matutino

Esfriando a seriguela

e na jaca amarela

Na rapa quente do tacho

pitomba presa no cacho

No araçá na janela.

Quando eu era criança

tudo era bem grandão

Era imenso o galpão

Que servia para dança

O prato sobre a balança

Eu via uma bacia

Tudo para mim crescia

na minha tenra idade

só via eternidade

a vida nunca morria.

Guando era inocente

maldade não era nada

Tinha a boca mudada

caia nascia dente

hora caia pra frente

Outra eu queria correr

Chorava pra mim socorrer

Com medo do bicho papão

Deitado em uma canção

Ate eu adormecer.

Hoje tudo eu largo

Não sinto o doce de antes

Os meu sentidos distantes

sentem insosso amargo

De vez em guando um trago

na aguardente, no vinho

Passo o tempo sozinho

Não sinto nada de doce

Tô velho vixe danosse

vejo o fim do caminho.

antes tudo era grande

Agora tudo é pequeno

Pra qualquer um que aceno

A vista pouco expande

Tô parecido com Gandhi

Careca bigode branco

tô arrastando tamanco

Foi embora vaidade

eu vivo só de saudade

aqui em riba do banco.

uma coisa ainda tem

guando era inocente

Na boca não tenho dente

e sou careca também

Tô igual a um neném

Chorando o que não mamou

e a fralda só aumentou

Ainda lembro a canção

E o tal bicho papão

Sou eu assim como estou.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 28/03/2016
Reeditado em 16/04/2020
Código do texto: T5587221
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