João José do Considerado

Entrou bufando,

Bateu forte no balcão

Do outro lado medroso

assustou-se seu Julião

Digas forasteiro;

Qual é o seu desejo

Aqui serás bem atendido

Se não vens como malfazejo

O forasteiro arredou passo

Desbicou o chapéu

Apertou a mão direita

mostrou a caveira do anel

Sou andante sem rumo

Sou montanha sem prumo

Rasgo a noite no peito

E de dia do mesmo jeito

Minha graça é João josé do considerado

Sei que ouvires falar de mim

No piar deste Cerrado

Mas não tenhas preocupação

Quero um trago de bebida

E uma farofa de feijão

Se atendes o meu desejo

Pela fé no Padim Ciço

Não terás um Malfazejo

Julião tinha moça donzela

Mariinha a filha caçula

Prometida ao Capitão Costela

Homem impiedoso, matava sem mudar o gibão

Ninguém se metia com ele

A não ser o dito João

O sol estava na testa o suor escorria

o vendeiro calado sem saber o que fazia

João esperava resposta olhava sem desviar

O silêncio do Julião que tremia sem parar

Moço se não sabes quem sou eu

Perguntes as cruzes na estrada

Por que serás que o dono morreu

Neste rincão de gente sofrida

Parece que o amigo será mais um que não tem amor a vida

Se não atendes meu desejo

Conhecerás a minha fama de João Malfazejo

Nisso o dia quente em instantes se hamonizou

Entrou por uma das portas

A coisa mais linda que Deus criou

Pelo amor de tudo que é santo, eu lhe imploro seu João

Não maltrates o meu pai, és um homem de coração

O senhor pisa em peçonha, talvez a mais venenosa delas

Estás nas terras do infame e seu desafeto Capitão Costela

O forasteiro deu um salto quase pula no terreiro

engatilhou a garrucha e apontou para o vendeiro

E pensa que eu não sabia?

Meu nome Considerado foi me dado na pia

Batizei com a missão de entrar onde quiser

Na faca ou na bala, do jeito que vier

Tô seguindo pra diante só parei pra matar a fome

Sirva logo o que pedi

Vamos esquecer este nome

A moça Mariinha falou baixo com Julião

Que tentou sair correndo por debaixo do balcão

Seu vendero filho de rapariga!

Se é isto que deseja, então vai ter a sua briga

Vou lhe picar de facão depois mato esta cadela

Ainda ponho pra salgar e entregar ao capitão Costela

Moço não desatine, gritou chorando a menina

que tinha olhos azuis como tingido de anelina

Disse ao pai que busque o prato

Para lhe fazer uma leva, que possa comer no mato

Não me venha com armadilhas

Por onde passo vejo muitas, escondidas pelas trilhas

Volte já para o balcão

Ou amanhã seu outro nome será defunto Julião

A tarde caiu e a noticia se espalhou

João josé do Considerado para a morte então voltou

A noite sarrabieira veio escura e sem lua

Mas o olho do João viu aquela menina Nua

Trocaram confidências inclusive de um segredo

Só estava com o capitão por ele impor o medo

Julião se borrava contando a malfeitoria

Que o capitão com sorriso narrava como fazia

Mas tinha outra parte que joão José ocultou

Homens seus cercando tudo, ele mesmo planejou

Na madruga um tropel surgiu com tiro e gritaria

Capitão Costela chegava e ali mesmo caia

Viera com poucos jagunços sem muita preocupação

Pensava já estar ganha, a batalha daquele sertão

Ainda no bréu da noite que sem lua resfriou

Avistou-se um fogaréu que o mato todo clareou

E varios homens montados bebendo e comemorando

invadindo a estrada sem pressa iam cantando

Deixe a história para trás, disse o feliz Julião

Que olhava com felicidade, sua filha e João...

E assim a noite foi passando

E que a história que não se acaba

Alguém continue contando....