Minha vida.
Uma vida é quase nada
No contexto do universo
Sendo ela malfadada
Ou se deu vida ao perverso
Se foi demais apertada
Sobre isso eu desconverso.
Só a vida recatada
Põe o tempo ao seu dispor
Ela nunca é enganada
Nunca provoca uma dor
Nunca é amargurada
Nunca lhe falta pudor.
Não será jamais tirada
Pela arma assassina
Será sempre respeitada
Pelo mau que abomina
Será sempre procurada
Pela paz que ela ensina.
O desejo de servir
É o seu doce alimento
Sempre tem o seu porvir
Pois já fez o pagamento
E na hora de partir
Sabe que é o momento.
Não pratica a caridade
Para ter compensação
Reconhece que a idade
Deu-lhe mais compreensão
Aconselha a mocidade
A agir com o coração.
Mora nos seus aposentos
Onde vive o seu degredo
Ali tem os seus tormentos,
Muitas dores, muitos medos,
Tem também seus bons momentos
Pra guardar como um segredo.
Só quem sabe o que é a vida
Poderá compreender
Como é doce uma partida
Para quem soube sofrer
Ela é porta de saída
Para um novo renascer.
No limite da constância
Encontramos bem-estar
No buscar a tolerância
Encontramos quem amar
No final a esperança
Vem conosco caminhar.
Para o próprio desespero
De quem vive a lamentar
A vida não tem tempero
Não aguça o paladar
Só lhe dá o destempero
De quem não sabe esperar.
Vê em si o mal da sorte
Que caminha muito lento
Se julgando muito forte
Fica surdo ao sentimento
Procura quem lhe suporte
Sem mudar comportamento.
É o espinho da roseira
Cuja flor despetalou
Pensando ser a primeira
A dizer que tem pudor
Esqueceu que a derradeira
Colhe o fruto do amor.
Se a flor despetalou
No momento de colher
Se com ela machucou
Ou se não pode escolher
Saiba que tudo passou
Procure o mal esquecer.
Participe da gincana
Para entrar no paraíso
Doe vida a quem te ama
Dê amor, mesmo conciso,
Seja como aquela dama
Que oferece o que preciso.
Reconheço que o amor
Sempre rejuvenesceu
Impedindo que a dor
Desse fim ao sonho meu
Sonho como o sonhador
Que de amar se esqueceu.