A construção da barragem do homem lá de cima
Quando o homem tem coragem
De lutar por um objetivo
Deus fornece as condições
Pra que possa ser cumprido,
Pois trabalhando com amor
Tudo conspira a favor
Pra realização do seu pedido.
Falarei de um acontecimento
Que confirma essa passagem
Onde um homem desbravador
Com muita força e vontade,
Um dia apenas sonhou,
Mas o sonho se concretizou
Na construção de uma barragem.
Como fazem os castores
Pelo instinto da mãe natureza,
Chico Cabral idealizou
Observando com muita destreza
Que aquele pedaço de chão
Tinha toda a condição
De comportar uma represa.
Assim começou o projeto
Partindo da sua vontade,
Então pensou no percurso
E medindo a necessidade
Organizou o maquinário
E todo o itinerário
Com muita sagacidade.
Chamou o pedreiro Raimundo
Homem forte e trabalhador
Um amigo de outras datas
Que sempre a Chico ajudou,
Cabra que não tem enguiço
E executa o seu serviço
Com muito cuidado e amor.
Pra servente chamou Rogeildo
Um homem pior que um leão,
Seu juízo é bem pouquinho
Mas trabalha que nem um cão,
Apesar de beber um bocado
Ser doido e desmantelado
E ter o bucho arrastando no chão.
O outro servente contratado
Não durou até o final
Mas contribuiu no serviço
E dele falarei por igual,
Pois João suou um bocado
Pra fazer o serviço do agrado
Do patrão Francisco Cabral.
E eu que não fico de fora
Digo sem qualquer pabulagem,
Que também ajudei a erguer
A parede dessa barragem,
Trabalhando no sol quente
Fiz o serviço de servente
Quando tive oportunidade.
Encostar o material
Seria a primeira regra,
Então foi comprado o cimento
E areia que veio na entrega,
E aproveitando o recurso
Juntaram nesse percurso
Várias carradas de pedra.
Ao terminar essa etapa,
O segundo serviço foi feito,
Francisco Cabral arrumou
Uma máquina pra der um jeito
De cavar com muito intento
Até dar no firmamento
Pra que tudo ficasse perfeito.
Quando tudo estava pronto
Chico firmou compromisso,
Mesmo sabendo do desafio
Não temeu nenhum enguiço
E foi no dia 17
No horário de dez pras sete
Que iniciou-se o serviço.
Dezembro era o mês
2015 era o ano,
Estava no fim da seca
E o tempo era meio insano,
Pois se o inverno arrochasse
E a chuva atrapalhasse
O projeto entrava pelo cano.
No começo foi bem difícil
Pois tudo estava alagado
E pra desgotar o fosso
O motor tava sempre ligado
Puxando a água pra fora,
Que teimava a toda hora
Em deixar tudo complicado.
De vez em quando o manguote
Teimava em pegar ar
E Chico Cabral valente
Começava a reclamar
Dizendo: Se essa desgraça
Vier me fazendo graça
Eu acabo é de quebrar.
Raimundo virado num traque
Sentava pedra da lama,
Rogeildo jogava a massa
Numa velocidade tirana
Enquanto João ajudava
E Chico administrava
Com muito respeito e gana.
Formigas tinham demais,
As barreiras eram enfestadas,
As bichas mordiam tanto
Que as pernas ficavam inchadas,
E pra o desconforto minimizar
O negócio era pulverizar
Pra matar essas desgraçadas.
Raimundo começou o serviço
Com um tênis meio passado
Que desde 72
Ele vinha sendo usado,
E o bicho não aguentou
E logo se despedaçou
Deixando o homem a nado.
E o serviço arrochou
Sem choro, preguiça ou míngua,
Raimundo pedindo massa
E João só mordendo a língua
O rojão era tão pesado
Que se o cabra não fosse arrochado
De noite sentia íngua.
Raimundo levou sua burra
E a carroça pra transportar
Algum tipo de material
Que precisasse encostar,
Pois todo e qualquer momento
Faltando pedra ou cimento
Era só a bicha arrear.
Mas a burra do homem era doida
E um dia tirou minha paz
Pois ficou o tempo inteiro
Andando pra frente e pra trás,
Apegou-se nessa besteira
E parecia que tava numa esteira
Que nem gente mesmo faz.
Um dia surgiu uma conversa
Que aqui eu quero contar,
Pois um cabra meio babaca
Foi a Raimundo perguntar
Se a barragem do “homem lá de cima”
Não tinha perigo ou sina
De pela parede vazar.
Raimundo ficou foi macho
E disse ao camarada:
Ta pensando que sou safado
E farei qualquer cagada?
Eu faço o meu serviço
Honrando o compromisso,
Prego batido e ponta virada!
Todo dia de trabalho
Por volta das 7 e meia
Chico trazia a merenda
Que mais parecia uma ceia,
Biscoito, Tareco e pão
Leite, café, bolachão
E um cuscuz sem pareia.
O serviço foi progredindo
E a construção levantando,
Vez em quando uma piada
Raimundo ia contando
Enquanto pai derrepente
Fazia rima e repente
E eu ia acompanhando.
Teve um dia que Rogeildo
Demorou muito pra chegar
E pai meio aperreado
Foi na sua casa buscar
Mas o bicho tava ressacado
De um porre que tinha tomado
E foi luta pra se acordar.
Chegou o final do ano
Passou Natal e virada,
E a parede subindo
De forma acelerada,
E já no mês de janeiro
A obra desse canteiro
Tava quase terminada.
Dia 15 do janeiro
De 2016,
Finalizamos a obra
E digo aqui a vocês,
Que a imensa alegria
Que Chico Cabral transmitia
Eu tinha visto “pouca vez”.
155 sacos
Foi o gasto com cimento,
Pedra, areia e água
Do topo ao firmamento
E um chaprisco caprichado
Pra deixar tudo lacrado
E dar o acabamento.
O trabalho foi pesado
Mas muito gratificante,
Esse "homem lá de cima"
Ensina a todo instante
Que com força, fé e coragem
E Deus na nossa passagem
Podemos seguir adiante.
Agora é só esperar
A chuva cair no carrasco
E encher essa barragem
Pra estrear o seu casco
E aguardar o carneiro
Que Chico o tempo inteiro
Nos prometeu pro churrasco.