A Segregação Socioespacial
Quero falar de um assunto
Que não é nada legal,
Defeito da sociedade
Tão mesquinha e desigual
Que despreza o cidadão
Na dura segregação
Que é socioespacial.
Não tem nada de normal
Viver em uma cidade,
E por causa do lugar
Não ter oportunidade
De gozar da estrutura
E de toda a conjuntura
Sem passar necessidade.
Quem é pobre tem vontade
De viver decentemente,
Mas o sistema coloca
A idéia em nossa mente,
De que pobre é como bicho
E pode viver no lixo
Sem incomodar a gente.
Eu vejo constantemente
Ao assistir o jornal
Como pobre em bairro pobre
Tem sina de marginal,
Mas o filho do doutor
Deputado ou senador,
Jamais é tratado igual.
Lá pelo cartão postal
Não está a realidade,
A imagem que representa
Todo o perfil da cidade
É sempre muito bela
Mas nunca uma favela
Que é feia e sem bondade.
Na mesma oportunidade
Onde a favela é excluída,
A sua população
É duramente atingida
Pois essa mentalidade
Que molda a sociedade
Exclui seu modo de vida.
O shopping é na avenida,
Uma importante área nobre
Pois loja sofisticada
Nunca abre em bairro pobre,
Inda tem rico que omite
Que esse espaço da elite
Apenas a ele cobre.
Por mais que se desdobre
E trabalhe sem Cessar
O pobre de uma favela
Não poderia comprar
Coisas sem necessidade
Que nossa sociedade
Põe em primeiro lugar.
Então ao se observar
O fluxo desse ambiente,
Fica muito escancarado
De forma bem contundente
Que esse espaço coletivo
Na verdade é seletivo,
E bastante excludente.
O pobre fica contente
Por erguer o seu mocambo,
Trabalha de sol a sol
Do seu suor faz escambo
E ainda é discriminado
Mau visto, e pisoteado
Tratado que nem molambo.
Seria mais que um bambo
Ver um pobre favelado
Entrar numa loja chique
Por ali ser bem tratado,
Recebido c’um bom dia
Café, chá e água fria,
Muito bem considerado!
O espaço discriminado
Mal visto na sociedade
É aquele onde o povo sofre
E passa necessidade,
Sem culpa e sem condição
E sofrendo segregação
Não usufrui da cidade.
Mesmo que tenha vontade
E seu saber como arma,
Pobres, negros, favelados
Carregam o mesmo carma,
Pois em qualquer condição
Quando passa guarnição
A sirene sempre alarma.
E sem portar uma arma
É visto como bandido,
Brutalmente revistado
Abusado e inibido,
Por algum policial
Que fere a sua moral
Falando que é prevenido.
Este mesmo exemplo tido
Ser fosse na zona sul,
Jovem branco, bem vestido
Classe média, olho azul
A polícia abordaria
E uma escolta ofereceria
Em São Paulo ou Stambul.
Em Natal ou em Patu
Mossoró ou Fortaleza,
Cidade pequena ou grande
Bonita ou sem beleza,
Tem sempre uma região
Que sofre segregação
Mas isso é uma tristeza.
Mesmo portando grandeza
Com todos os seus encantos,
Paris é uma cidade
Que segrega em seus recantos,
Em bairros com imigrantes
Tidos como ignorantes
E cheios de desencantos.
Como eles, outros tantos
Em chãos mais desenvolvidos
São tratados como lixo
Surrados e perseguidos,
E nos guetos da cidade
À margem da sociedade
Desprezados e excluídos.
Nos subdesenvolvidos
Ou em desenvolvimento,
O problema é bem maior
E também o sofrimento,
A grande desigualdade
É quem propaga a maldade
Sem dó ou discernimento.
Esse é nosso momento
De fazermos diferente
Ensinando a sociedade
De forma bem consciente
Que manter a harmonia
É plantar sabedoria
No juízo dessa gente.