As árvores da Comunidade Indígena Darora
Ao sul da Terra São Marcos
Uma tribo Macuxi
Às margens do Tacutu
Resolveu viver ali
E trago nesta memória
Um pouco desta história
Da gente que conheci.
Pois foi nos anos 40
Que esta vila nasceu
Quando algumas famílias
Saíram do lugar seu
Em busca de novas terras
Bem depois daquelas serras
O destino sucedeu.
E saíram do Xumina
À nova localidade
Ano 41
Nasceu a comunidade
Uma grande aventura
Para ter agricultura
Era a prioridade.
E de fato Seu Augusto
Foi primeiro habitante
E deu nome ao lugar
Num fato interessante
A ele foi sugerido
O que tem de ocorrido
E pensou por um instante.
Pediram pra escolher
Uma árvore do mato
Podia ser manga braba
Que era grande de fato
Mas Darora preferiu
E no norte do Brasil
A registrou no contrato.
E a maloca cresceu
Com o povo que chegou
Assim botaram lavoura
E este rumo tomou
Mandioca pra farinha
Um peixe grande na linha
Ou um bicho que caçou.
Roça à beira do rio
Gado pasta no lavrado
São fontes de alimento
Aqui evidenciado
Cocheira foi necessária
Fazenda comunitária
No Teiú tá bem guardado.
Mas também tem melancia
Que dá conta do recado
Cultiva em grandes roças
Nesse solo do lavrado
E também perto do rio
Tem roçado que dá mil
Que vai pra todo Estado.
E em todo território
Da beira do tacutu
Até o aruanã
Ou nos limites do sul
Norte até o Timbó
Bem depois do igapó
Mais distante do Teiú.
Mas quero falar das árvores
Que conheci no local
Da beira do rio ao teso
Lavrado, buritizal
Falarei da diplomata
Que é a ilha de mata
Com flora regional.
Começando no Lavrado
Vi um mar de mirixis
Três grandes e um pequeno
Coisa que eu nunca vi
Do vermelho tem demais
Branco não fica atrás
Sobre isso nunca li.
O branco e o vermelho
São bastante parecidos
Têm a mesma serventia
E são muito conhecidos
Pra lenha, carvão e vinho
Tem o fruto azedinho
Não te deixa esquecido.
E o orelha de burro
Que é bem pequenininho
De longe lembra alface
Do fruto também faz vinho
Tem mirixi de galega
Que na hora não pelega
E faz cerca rapidinho.
Agora vem caimbé
Que é visto todo dia
Ele serve pra pintar
E para disenteria
Ferida, inflamação
Diabetes e pilão
Até panela aria.
Falou em dor de barriga
Qualquer uma delas serve
Porém melhor do que essa
Não tem um chá que reserve
Pois a casca da congonha
É mais forte que peçonha
Que até a tripa ferve.
Continuo com remédio
Lembro de inflamação
E a mistura correta
Que se faz com douradão
Mais erva de passarinho
Passa tudo rapidinho
Sara junto coração.
Mais uma medicinal
Que resolve de primeira
Com seu leite vem a cura
Na ferida é certeira
Disenteria, gastrite
Úlcera, apendicite
Só pode ser sucubeira.
Uma boa de madeira
Que a gente não se engana
É forte que nem concreto
Faz cerca, casa, cabana
Curte couro e é lenha
Faz remédio sem resenha
É a tal paricarana.
Pra fechar com as do campo
Falta essa planta só
Sua folha faz o sumo
E traz peixe sem dar nó
Joga o sumo no rio
Peixe bóia tudo frio
Com o poder do timbó.
Essas foram as mais presentes
No ambiente aberto
Eu sei que existem outras
E você está bem certo
Mas vamos às florestais
Que delas têm muito mais
Chegue um pouco mais perto.
A que dá nome à Vila
Logo chama atenção
Está presente nas casas
Sustentando construção
Darora é muito forte
Dura e de grande porte
Preferida do rincão.
Também para construção
Nós podemos encontrar
Na estaca copaíba
E jurema pra cercar
Na palha tem buriti
Pachiúba: açaí
E até taperebá.
Tem também arapari
Da tábua faz a parede
E macaco aricuia
Que nele arma a rede
A forte jacareúba
Angico e ucuuba
Na sombra mato a sede.
Jenipapo faz remédio
Lenha, poste e comida
Dois tipos de envireira
Piritó também valida
Samaúma é maior
Urucum é bem menor
Araçá ninguém duvida.
Eu vi no Maracajá
Muita planta de primeira
Vi o tento na entrada
E depois a formigueira
Conheci o tauari
Entre tanto buriti
Mais louro e castanheira.
E lá na beira do rio
Tinha muito mututi
Pau d’arco e manga braba
Graviola jabuti
E também copaibinha
Bem como a vassourinha
Pro gado, mari mari.
Vi uma farinha seca
E na água caçari
Vi um coração de nego
E um tal de jaraí
Jenipapo pra pintar
Mororó pra cultivar
Bacatirana, miri.
Embaúba, jacitara
Jauarí e marajá
Lacre e Ingarana
Do mato, maracujá
Vi também mandacaru
E um tal caraoaçu
Mas não vi o marupá.
Fui no açude do tigre
Perto tinha um pedral
E uma ilha de mata
Por de trás do arbustal
Muito angico cortado
Com muito pouco sobrado
Esse foi o meu aval.
Mas vi a maria preta
Com sua flor bem roxinha
O esporão de galo
Uixi e goiabinha
E também chapéu de sol
Madeira branca no rol
Era tudo que se tinha.
Aqui deixei registrado
Muito pouco do que vi
Na maloca da Darora
Das plantas que conheci
Espaço ficou pequeno
Mas ainda tem terreno
Ou será que esqueci?
Boa Vista, 13 de fevereiro de 2016.
Material produzido pelo projeto de Doutorado do Programa de Pós-graduação em Botânica/INPA e Universidade Estadual de Roraima, intitulado “Uso e conservação dos recursos vegetais de comunidades indígenas no norte de Roraima” autorizado pela FUNAI: Processo 08620.002869/2014-15; pelo IPHAN: Processo 01450.001678/2014-88; e pelo CEP-INPA/CONEP: Parecer 814.370.