Homeomorfo

É; talvez seja a vida que ensina,

Ou talvez a gente é que aprende,

Há quem sente que afeto ofende,

Há quem acha correta a propina,

Quem se faz vítima; diz ser sina,

Há quem mata, não vai pra prisão,

E se rouba galinha é maior ladrão,

Maltrata irmão, o faz machucado,

Jejua-se de carne, pois é pecado,

Quanto mais culpa mais dá sermão.

E há quem batalha para ter filhos,

E há quem sempre faz um aborto,

Há quem adota mesmo que ‘torto’,

Quem abandona e joga nos trilhos,

Critica o funk e canta estribilhos,

E há rico que rouba sem precisão,

Porém há outros que é só doação,

Há pobre fingindo ser o que não é,

Há outros que não tem nada, só fé,

Quanto mais culpa mais dá sermão.

Há quem confia piamente em Deus,

Há os que não confiam em ninguém,

Há os que falam, mas não faz o bem,

Há quem é Poseidom, finge ser Zeus,

Há quem critica votos e vende o seus,

Há os que gostam de gatos e tem cão,

Há quem tem cu no lugar do coração,

E há quem faz de tudo um esculacho,

Quem só pensa com a cabeça de baixo

Quanto mais culpa mais dá sermão.

Há quem acha que o outro é obrigado,

Há quem acho que tudo seu é perfeito,

O coxo apontando no outro o defeito,

Há quem mente e se julga acreditado,

E os governantes só têm papo furado,

Há tanta pessoa que não tem coração,

Há tanta gente que não serve pra sabão,

Há gente bocuda, não sabe ser discreta,

Há gente como eu, querendo ser poeta,

Quanto mais culpa mais dá sermão.

Uberlândia MG

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