O PINTOR MUDOU A TINTA/ DA PAISAGEM DO SERTÃO.

MOTE DE LABÔNIO DI OLIVEIRA

Uma seca causticante

Assolou nosso nordeste,

Do sertão ao agreste

A coisa foi devastante.

O criador num instante

Trouxe a resolução

Derramou no nosso chão

Uma chuva bem retinta.

“ E o pintor mudou a tinta

Da paisagem do sertão.”

Era um negrume só

Estendido pelo pasto;

Um cenário tão nefasto

De miséria e de dó.

Chega levantava o pó

Do redemoinho lá no chão.

E quando assim o trovão

No céu fez a sua finta

“O pintou mudou a tinta

Da paisagem do sertão.”

.

A névoa deixa as colinas

Numa elegante alvura

Cobrindo sua estrutura

Que nem grandes cortinas.

O orvalho nas campinas

Cristaliza a cerração

Amenizando a situação.

Duma forma tão sucinta.

“O pintor mudou a tinta

Da paisagem do sertão.”

A verdura se dissemina

Na orla das grandes matas.

No sopé belas cascatas

Saltitam que nem menina

Sua água cristalina

Serpenteia todo vão

Descendo no ribeirão

Como se fosse uma cinta.

“O pintor mudou a tinta

Da paisagem do sertão.”

Enfeitando as paisagens

Só se ver o aguaceiro,

Nas cacimbas , em barreiro

Espalhado nas rodagens.

Nos campos lindas ramagens

Enfeitam a imensidão

Misturam-se à vegetação

Que estava quase extinta.

“O pintor mudou a tinta

Da paisagem do sertão.”

A chuva trouxe bonança

Para todos do lugar;

Os pássaros voltam a cantar

Com muito mais confiança

Sem perder a esperança

Afina mais a canção

Sem sair da metrificação

Chama um e chama trinta.

“O pintor mudou a tinta

Da paisagem do sertão.”

O urubu desaparece

Fecha o ato, sai de cena.

A linda flor da Açucena

Na caatinga se floresce;

No cercado o capim cresce

Ornando todo o torrão,

Trazendo alimentação

Para a vaca tão faminta.

“O pintor mudou a tinta

Da paisagem do sertão.”