A escada da vida
No degrau de uma escada
Ouvi uma voz pausada
Dizendo ter vida dura
Dizia não dever nada
Que era a alma penada
Vivendo de amargura.
Dizia não merecer
Qualquer um podia ver
Consultando o seu passado
E depois então trazer
Um pouquinho de prazer
Vendo que não tinha errado.
Dizia que a sua luta
Que travava na labuta
Tinha muito sofrimento
Que a vida é muito curta
Vive bem quem muito furta
Esse era o ensinamento.
Quando alguém chega ao final
Nunca paga pelo mal
Que fazia por dinheiro
Ignora o seu igual
Dele faz o pedestal
Para em tudo ser primeiro.
Usa bala de festim
Para tirar do jardim
A criança abandonada
Que do dia vendo o fim
Já sabendo ser assim
Dorme suja na calçada.
Disse a ela que um dia
Fora alguém que decidia
Sobre a vida de um moço
Que nem mesmo conhecia
Mas por grande covardia
Colocou no calabouço.
E depois aconteceu
Que aquele moço morreu
Arrastado em uma biga
Você disso se esqueceu
O moço era um filho seu
Mas você negou-lhe a vida.
Poderia ser melhor
Sendo você o maior
Na escala do governo
Mas você sabe de cor
Que você foi o pior
Praticando desgoverno.
Hoje é um operário
Vivendo com o salário
Que recebe do patrão
Mas esquece do diário
Onde está o itinerário
Feito pela sua mão.
Não pensou no inocente
Que marcou com ferro quente
Pra mostrar sua coragem
Castigou sempre o doente
Que não estava presente
No momento da contagem.
Muitas armas preparou
A muitos sacrificou
Para aumentar seu poder
Aos velhos não respeitou
Também à moça obrigou
A você satisfazer.
Hoje é um João Ninguém
Que está querendo alguém
Pra formar um novo lar
Entretanto pro seu bem
Esse alguém será também
Seu passado a te cobrar.