O CHATO DA PROPINA
I
Há gente chata pra tudo,
Ser chato parece sina,
Um castigo de nascença,
Seja grossa ou seja fina,
Há pessoas que são chatas
Até pra pedir propina.
II
O chato fica no pé,
A toda hora insistindo,
Você se esconde, ele acha,
Fica a prosa repetindo
E, quando consegue uma coisa,
Começa outra exigindo.
III
O chato pede um favor,
Pede o segundo e o terceiro,
Depois que alcança os três,
Recomeça o converseiro
E volta a telefonar
Reclamando do primeiro.
IV
Ele entra na internet
E fica te futucando,
Puxa conversa fiada,
Mesmo você evitando,
Inda bota um bonequinho
Com a cara triste, chorando.
V
Na mesa de um restaurante,
Você e sua mulher,
O chato encosta e se senta,
Começa o querrequequé,
Dana-se a falar de Lula,
De Maradona e Pelé.
VI
Ele visita sua casa,
Sem ninguém lhe convidar,
Chega na hora do almoço,
Come que chega a arrotar
E reclama da descarga
Que está sem funcionar.
VII
No comitê de campanha
É cheio de curruchiado,
Fica contando vantagem,
Todo mundo admirado,
Parece até que ele tem
Mais votos que o deputado.
VIII
Na casa de um amigo,
Zé Serra foi se hospedar,
Era uma bela fazenda
Pras bandas do Paraná,
Pois o chato reclamou
De ouvir o galo cantar.
IX
O chato entra no carro,
Acha o som meio alteado,
Diz que o carro é zoadento
Com o motor envenenado:
- Está frio, você desliga
Esse ar-condicionado?
X
Agora na Lavajato,
Está tudo confirmado:
O chato ficou ligando
Que a propina tinha chegado,
Mas só tinha nota de cem
E ele queria trocado.