CHUVAS NO SERTÃO
A água molhando o chão,
O chão virando atoleiro,
O gado não quer saber
De ração e de vaqueiro;
Cresce o verde na mata
E a seca velha ingrata
Se despede em janeiro.
Quando chega fevereiro
O inverno está pegado,
Tem açude quase cheio,
Os barreiros tem sangrado;
O zumbido das abelhas,
Água caindo nas telhas,
Deixa o sono sossegado.
Um boi puxa o arado,
No curral um bode berra,
Enquanto a lona verde
Cobre o preto da serra;
Março é um mês de fé
Dedicado a São José,
Protetor de nossa terra.
O que parecia guerra
Logo vira paraíso,
A caatinga que chorava
Abre um longo sorriso;
Depois do leite tirado,
Vou depressa ao roçado
Lá tem tudo que eu preciso.
Não existe prejuízo,
Festa na agricultura,
Na mesa do sertanejo:
Feijão, arroz, rapadura,
Uma galinha na graxa,
Um golinho de cachaça
É tempo só de fartura.
Água dando na cintura
Bem no meio do baixio,
Lá no pé de juazeiro,
Tremem as aves de frio,
E no centro do riacho
Espuma fazendo cacho
Até desaguar no rio.
Assim finda-se o vazio
Que tava no coração,
Tá tudo virado lama
Não ficou nenhum torrão;
Tem água nos olhos meus,
Vinda das águas que Deus
Mandou para meu sertão.