Mané de Vitória e a cachaça.
"Mané de Vitória é um personagem de cordel criado por mim,é um tipo de matuto nascido e criado nos sítios de Garanhuns, um sujeito afobado e sem humor, mais por isso mesmo engraçado".
Deixe eu tomar cachaça
Vá cuidar da sua vida
Sou um bêbado de raça
Tenho a garganta ardida
bebo cerveja e licor
Cachaça de toda cor
Eu tomo qualquer bebida.
Meu tira gosto é miúdo
Com raspa de rapadura
Bebo com rótulo e tudo
Eu tomo qualquer mistura
Sem copo vai no gargalo
Eu tomo rabo de galo
com charque e tanajura.
Bebo em mesa de bar
Bebo em todo balcão
Bebo em qualquer lugar
Em pé sentado no chão
Não bebo pra esquecer
Bebo porque beber
É minha religião.
Eu bebo pelo natal
E bebo no São João
Eu bebo no carnaval
E bebo se for verão
Na primavera ou inverno
De paletó ou de terno
Bebo em toda estação.
Bebo sem ver o quê
Eu não preciso motivo
Perfume loção ou laquê
Me serve de aperitivo
Se apertar a buzina
Eu tomo ate gasolina
Sem precisar aditivo.
Bebo em copo quebrado
Bebo acetona e resina
Uísque falsificado
Feito em qualquer esquina
Ainda vou a reboque
Poque bebi o estoque
Fabricado na usina.
Bebo por ter conversa
Bebo sem ter assunto
Bebo quebro promessa
Com o seu vigário junto
E se for a ocasião
Sendo na extrema unção
Eu bebo pelo o defunto.
Baco é o deus do vinho
Isso ninguém reclama
E o Zaca Pagodinho
Esse só toma Brahma
Um tal Chico Buarque
Meti a cara no conhaque
E Só eu que levo a fama.?
Nero se embriagou
Dom Pedro também bebeu
E a pinga vadiava
Lá dentro do coliseu
"O companheiro presidente"
Também toma aguardente
E só quem bebi sou eu?
Não, eu não aceito
Não sou merecedor
O álcool tem seu efeito
Depende do bebedor
Veja o que modifica:
Cachaceiro é quem fabrica
Eu só sou o consumidor.
O mundo é um alambique
A vida faz seu despacho
Champanhe é coisa chique
Cachaça é para macho
Quem joga tá no cassino
Só quem não bebi é sino
Porque a boca é pra baixo.
O médico manda parar
Não beba Mané mais não
"O fígado não vai aquentar
Afeta o seu coração"
Fim de semana em segredo
Tá com cigarro no dedo
E com uísque na mão.
Tem gente que me ignora
Eu ignoro também
Na casa a onde mora
Pode ver que lá tem
Um bar cheio de bebida
Pra visita ser servida
Sem gastar nenhum vintém.
Quem fica bêbado sou eu
Aos poucos eu vou pagando
E para quem me vendeu
Eu mando ir anotando
E se não tiver treta
Gasta a tinta da caneta
E ainda fica faltando.
Eu não deixo e não quero
Eu sou um renitente
Não aceito não tolero
Então não force nem tente
Então escute meu chapa
Vá tomar sua garapa
Que eu tomo minha aguardente.
Quem me condena escute
Olhe eu não sei não
guando embriagado se sente
Muda logo a opinião
Suspira muda o cenário
Requebra sai do armário
Fala virando a mão.
Comigo é diferente
Digo o que eu acho
Falo pessoalmente
Sem fazer esculacho
Repasso o que recebo
Quanto mais é que bebo
Aí é que fico macho.
O cabra olha e diz:
"Ele tomba na calçada"
Ôh bexiguento infeliz
tua vida não é nada
Só olha pra minha vida
Não ver que tua querida
É pinga falsificada!
Me perguntaram zombando
Por que é que eu bebia
E eu fiquei pensando
Como eu respondia
Fui grosseiro e ríspido
"Bebo porque é líquido
Se fosse sólido comia.
"Eu já tô arretado
Com a tua psicose
Tu é um osso furado
Com osteoporose
A tua moral é linfática
Chata e antipática
Para a minha cirrose."
"Eu sou mané de Vitória
Um cachaceiro eterno
Eu já gravei na memoria
E anotei no caderno
Que para quem me condena
Vai pagar a sua pena
Bebendo lá no inferno"
"Agora eu vou embora
Pois já cumpri meu papel
Vejo que já é hora
De pinga e sarapatel
Eu tombo seguindo em frente
Vou tomar minha aguardente
Eu volto em outro cordel."