Gabriel, anjo sobrevivente (uma mensagem contra o aborto)
Lindalva era moça bonita
Recolhia sempre admiração
A chamavam rosa mesquita
Por causa do charme e da feição
Vaidosa, inquieta e faceira
Tava sempre namorando
A mãe era uma viúva doceira
Que dava duro trabalhando
Filha única largada
Não tinha interesse pra estudar
Mas na arte da paquerada
Tirava em primeiro lugar
Até que se apaixonou
Pelo traficante do lugarejo
Rapidinho engravidou
Como dele era o desejo
No terceiro mês de gravidez
Foi seu amado assassinado
Impondo-lhe uma dura viuvez
Largou a vida de lado
Entregou-se à depressão
E sua criança decidiu matar
Não queria um mundo de cão
Que seu filho iria vitimar
Escondida, ervas fortes ingeriu
Na intenção impensada de abortar
Não querendo ser a quem pariu
Mais um pobre pra traficar
Teve vertigens, contrações
Náuseas, dores e sangramentos
No hospital haja injeções
Pra abranda-lhe o sofrimento
Mas seu oculto plano falhou
E o bebê resistente permaneceu
Eis que o amor a despertou
E seu coração reviveu
A criança teve seqüela
Surda e asmática veio a nascer
E todos se encantavam com ela
Pela felicidade que tinha em viver
Gabriel foi registrado
Tendo o pai desconhecido
Era pra proteger o coitado
Do cruel tráfico subversivo
Foi ela ajudar a mãe na feira
Pensando o filho educar
Passou também a ser doceira
Queria a vida transformar
Gabriel muito inteligente
Começou cedo a desenhar
Eram imagens comoventes
De uma criança a sonhar
Demonstrou grande talento
Mais tarde veio a pintar
Era de grande encantamento
Cada quadro a terminar
Tinham mensagens de paz
Traçava poesia num pincel
Em toda imagem era capaz
De transmitir a luz do céu
Traços suaves em cores acalmantes
Paisagens tranqüilas envolventes
Situações humanas edificantes
Linguagens divinas eloqüentes
E assim era sua expressão
Falando aos outros como via
O mundo de medo e aflição
Que a muitos entristecia
Por não escutar o desespero
E da vida não ter xingamentos
Era seu silêncio o tempero
A dá gosto ao sofrimento
Pintava sempre sorrindo
Após concentrada oração
Era Deus sempre servindo
Sua sublime inspiração
Gabriel fora convidado
Para expor numa galeria
Foi um sucesso extremado
A partir daquele dia
O seu quadro mais elogiado
Foi o Grávida Doceira
Que os críticos entusiasmados
Classificaram ser de primeira
Logo virou artista famoso
Mas manteve a simplicidade
Agradeceu o presente luxuoso
De uma bela casa na cidade
Preferiu continuar na favela
Ensinando a técnica de pintar
Acreditava ser sua, aquela
A maneira mais simples de ajudar
Não escutava as balas perdidas
Mas via o funeral passando
Tinha consciência que a saída
Era cada um colaborando
Seus quadros viajaram o mundo
Com o dinheiro fez uma escola
Não queria ver vagabundos
E amigos seus pedindo esmolas
Achava sua arte inacabada
Pois queria pintar um jardim
De uma favela transformada
Onde violência e fome tivessem fim...
E o menino precoce de outrora
Continuou a vida sonhando
Trabalhando dias a fora
E uma comunidade redesenhando
Dona Dulce, sua avó querida
Agradecia a filha pela decisão
De quando o marido teve partida
Dedicar-se firme a gestação
Pra ela foi uma luz Divina
Que em sua família pôs Deus
Como prova que sua dura “sina”
Uma dúlcida paz mereceu
Pois lhe veio do firmamento
Um anjo lindo pra suas vidas
Trazendo esperança e ensinamentos
A tantas almas sofridas
Escutou soluços no quarto
Era a filha que muito chorava
Agradecendo ainda o parto
Que trouxe o filho que tanto amava
Olhou serena pra o céu
Fazendo o sinal da cruz
E nesse momento como um véu
Cobriu-lhe de amor Jesus