CORDEL: A COMADRE MUQUIRANA

Pobre quando vai à praia

É um tremendo exagero

Leva tudo que precisa

Pra não gastar seu dinheiro

Ovo, banana e pão

Água e até candeeiro.

Uma comadre chamou

Ciça, sua amigona

E o compadre Valdecy

Para passarem a semana

Lá na Praia do Francês

Mas era uma muquirana.

A comadre muquirana

Uma mulher de verdade

Só ela sabia tudo

Com superioridade

Era tão ignorante

Não enxergava a verdade.

Para o passeio à praia

Levaram um botijão

Com 20 litros de água

A TV e um bojão

Duas bandejas de ovos

E vinte reais de pão.

E 10 pares de sapatos

Pra saírem na noitada

Manga, macaxeira, inhame

Uma rabada guisada

Um pacote de fubá

E uma galinha assada.

Uma penca de banana

Arroz, farinha, feijão

Colchões velhos e rasgados

Salsicha e macarrão

Uma melancia enorme

Caju, laranja e melão.

Foram em uma Kombi velha

A Kombi velha quebrou

E não teve mais conserto

O desespero aumentou

Pegaram um carro de praça

A aventura começou.

Foram de carro de praça

Como bons aventureiros

As bugigangas caíam

Em cima dos passageiros

Essa mundiçada toda

Pra economizar dinheiro.

O carro estava lotado

Mas tudo se acomodou

A sua comadre Ciça

No seu colo agasalhou

Duas bandejas de ovos

E o povo se admirou.

O compadre Valdecy

Levou no colo as bananas

Levou carne pro churrasco

Cinco garrafas de cana

O carro de lotação

Virou casa de mãe Joana.

A comadre muquirana

Vez e quando perguntava

- Compadre e as bananas?

E o compadre lá gritava:

- Tão boas e madurinhas

E o povo logo zombava.

Levava uma churrasqueira

Velha e enferrujada

Carne de porco e de boi

Cerveja e feijoada

Uma galinha ao molho

E também a farofada.

- Pra que levar tanto ovo

Banana, cuscuz e pão

Se na praia hoje em dia

Tem farta alimentação

E precinho bem-barato

Pra toda população.

Vendo aquela bagaceira

Um alguém gritou de novo

- Que mundiçada danada!

- Pra onde vai esse povo?

- Parece que eles só comem

O cuscuz e pão com ovo.

Quando chegaram à praia

Com toda dificuldade

A casa já estava cheia

Não tinha privacidade

Resolveram procurar

Uma outra localidade.

E levando as bugigangas

Que de longe arrastaram

Conseguiram outra casa

E logo se instalaram

Ficando bem confortáveis

E todos se conformaram.

A comadre muquirana

Se dizia bem-prendada

Preparou logo um cuscuz

Uma bomba improvisada

Com ovo, milho e ervilha

E sardinha temperada.

- Compadre, eu fiz um bom prato

Pra gente comer na praia

Um grande cuscuz com ovo

O compadre quase desmaia

Ao ver aquele cuscuz

Aquela maracutaia.

E quando foram à praia

Foi aquela confusão

Levaram coca e pitu

E aquele cuscuzão

Onde se deliciaram

Numa bela refeição.

O marido da comadre

Ficou logo embriagado

E o compadre Valdecy

Também já estava melado

Quando ouviram um forró

Foram dançar agarrados.

Comadre Ciça ficou

Bastante horrorizada

Com dois bêbos se agarrando

No outro dando dedada

Com essa cena maluca

Quase era hospitalizada.

Depois daquele cuscuz

Foi grande a presepada

Foi um festival de peido

Cheirando a pólvora queimada

A barriga só doendo

E a cueca já cagada.

Depois desse dia triste

Retornaram para casa

A comadre muquirana

Jurando que só arrasa

Comadre Ciça possessa

Com o marido extravasa.

Desse dia em diante

Foi grande a decepção:

- Com compadres muquiranas

- Não quero sair mais não

Disse a comadre Ciça

A Valcy, seu maridão.

AUTOR: CARLINHOS CORDEL

12 DE DEZEMBRO DE 2015.

Carlinhos Cordel
Enviado por Carlinhos Cordel em 27/12/2015
Código do texto: T5492686
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