Minha indiferença

Aos amigos e amigas do Recanto entrego essas linhas sem qualquer vestígio de indiferença, essa - a indiferença- é apenas e tão somente o título que dei ao texto, nada mais. desejo a todos um ótimo final de semana.

Sobre a minha indiferença

Hoje eu posso discorrer

Nada entendo de ciência

Pouco sei do meu viver

Mas eu tenho consciência

Que cumpri o meu dever.

Todo o meu tempo foi gasto

No trabalho e no estudo

Enfrentei meu holocausto

Imitando o surdo e mudo

Me acusaram de nefasto

E me privaram de tudo.

Fui ordeiro e dedicado

Foi difícil o meu caminho

Pois mesmo quando enganado

Grande foi o meu carinho

Quase sempre desprezado

Vivendo sempre sozinho.

No trabalho fui ordeiro

Na vida fui cidadão

Mesmo não sendo o primeiro

Cumpri minha obrigação

Mesmo não tendo dinheiro

Sempre garanti o pão.

Tive tempo pra viver

O milagre que a vida

Oferece a quem sofrer

Os percalços da subida

Só assim pude entender

O valor da minha lida.

Meu trabalho progrediu

Meu salário melhorou

Meu coração conseguiu

Amar quem não me amou

Eu amei quem me traiu

Assim mesmo compensou.

Sei que tenho mil defeitos

Mas eu amei de verdade

Se não fui alguém perfeito

Sempre agi com lealdade

Mesmo se não fui aceito

Eu fingi felicidade.

Declarei o meu amor

Muitas vezes em alta voz

Não tinha nenhum valor

E continuei a sós

Mas não fui o perdedor

De ninguém eu fui algoz.

Se eu fiquei infeliz

Tive as minhas razões

Tudo aquilo que se diz

São meras divagações

Importante é a raiz

Das minhas opiniões.

Acabei desanimando

Minhas armas ensarilhei

Saí pelo mundo andando

Se fiz o certo eu não sei

Mas consigo, meditando,

Convencer-me que acertei.

Ganhei muita indiferença

Mas lutei para vencer

A minha suficiência

Do trabalho retirei

Mesmo a minha impertinência

Eu também valorizei.

Hoje sigo indiferente

Pelas ruas da cidade

Ouço vozes de repente

Que imploram caridade

Muitas delas eloquentes

Se escondem da verdade.

Para os filhos sou estranho

Todos eles me superam

Talvez me julguem tacanho

Ou alguém que desespera

Assim mesmo eu sempre ganho

Porque sei que não me esperam.

Vou seguir indiferente

No caudal de desventuras

Entretanto estou ciente

Do final desta aventura

O que fiz foi tão somente

Falar com desenvoltura.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 12/12/2015
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