SESSÃO DOS TOQUES
I
O sujeito nordestino,
Quando nasce no sertão,
Cresce numa vida dura:
A seca rachando o chão,
Uma panela vazia
Na beirada do fogão.
II
A vida é árida e difícil
Na imensa precisão,
Não há tempo pros detalhes:
Sim é sim e não é não,
Ninguém lá se dá ao luxo
De ingerir ilusão.
III
Se começa uma discussão,
Cada fala é anotada:
Um dedo em riste na cara
É prenúncio de uma lapada
E qualquer um caqueado
É anúncio de facada.
IV
Foi isso que sucedeu
Na Câmara dos Deputados,
Quando dois parlamentares
Começaram um pinicado
E terminaram se embolando
No maior tarrabufado.
V
O moído começou
Com Geraldo, do Pará,
Que queria derrubar Cunha
Dando pressa pra votar
Um novo requerimento
Pra seu mandato cassar.
VI
Foi quando Wellington Roberto,
Das terras paraibanas,
Foi brigar com o deputado,
Esse lhe deu uma banana,
Roberto deu-lhe um tabefe
Que a coisa ficou bacana.
VII
Depois do murro na orelha,
José Geraldo gritou,
Foi subir numa cadeira,
Na beirada escorregou
- Segura, que eu dou um troço,
Esse homem me tocou!
VIII
A turma do deixa-disso
Se meteu na confusão,
Teve até um deputado
Das bandas do Maranhão
Que levou uma dedada
Na porta da comissão.
IX
Quando suspensa a sessão,
As coisas já serenando,
Um parlamentar careca
Pegou outro fuxicando
Que tinha tirado um torrado
E ainda estava cheirando.
X
Quase começa outra briga,
A turma foi apartando,
Recolheram as lambedeiras,
A sessão foi terminando...
Quanto mais o tempo passa,
O Brasil vai afundando.