GAÚCHO GALO DE RINHA

I

Certo é que o galo de rinha

Já luta dentro do ovo

Sonhando um mundo novo

Que bem conhece a galinha

Mas ele logo adivinha

O enfrentamento à brigada

No meio da pintarada

Com asas e pés ciscando

Como já se preparando

Para uma vida guerreada.

II

No terreiro acompanhando

A mãe galinha que o chama

Pra bicar e comer grama

Pinto começa ciscando

E os seus irmãos imitando

Com o quais vai disputar

A minhoca a rebolar

Que se enfia num buraco

Deixando o pinto sem saco

Pra começar a brigar.

III

Diz a lenda que a ninhada

Dos pintainhos de rinha

Esquecendo a mãe galinha

Depois que uma chuvarada

Apanha-os de emboscada

E os deixa descoloridos

Ficam eles aguerridos

Porque se acham molhados

Da cor da lama sujados

E sem ser reconhecidos.

IV

Tem início a primeira intriga

Entre os pintados irmãos

Botando os pés pelas mãos

E a estranheza vira briga

Pois é uma questão antiga

De instinto dos animais

Com os humanos iguais

Sem nenhuma diferença

A não ser só pela crença

Que os faz irmãos e rivais.

V

Só que a luta dos pintos

Na fria e primeira guerra

Com uma bicada se encerra

Da mãe galinha nos quintos

Que detém os maus instintos

Daquele clima guerreiro

Cisca e dança no terreiro

Donde advém o alimento

Pra pintaiada o sustento

Durante um dia inteiro.

VI

Qualquer galo tem espora

Seja ou não galo de rinha

Ele protege a galinha

Porém não só uma adora

Pois sendo macho namora

Um bando de galinhadas

Que ele deixa aninhadas

No terreiro e ali afora

Assim deixando por ora

Lições a nós ensinadas.

VII

Eu já vi brigas de galos

Dos mais fortes e briguentos

Só tenho arrependimentos

Doendo hoje em meus calos

De esporadas ouvi estalos

Que da memória os repuxo

Se assisti não foi por luxo

À horrenda briga de azar

Consolou-me ao comparar

Como se briga um gaúcho.

VIII

Rio Grande do Sul é o cravo

No peito de um brasileiro

Naquele Estado altaneiro

Ninguém jamais foi escravo

Por ser o gaúcho um bravo

Rio Grande não é uma ilha

E hoje é parte da família

Porque brigaram bastante

Por nosso Brasil Gigante

O farrapo e o farroupilha.

IX

Se agora o Brasil avança

Deve muito ao Rio Grande

Do povo bravo que expande

Com muita fé e esperança

Lutador desde criança

Desafia e vence a intriga

Trova e dança na cantiga

Bugio, Xote ou chamamé

Porquanto o gaúcho é

Galo bravo e bom de briga.

X

Foi estudando a cartilha

Que fiz uma descoberta:

Ao frio uma roída coberta

Cobriu toda uma família

Na guerra de farroupilha

E foi graças ao gaúcho

A quem versejo com luxo

Por ter lutado sem pausa

Pra defender uma causa

Estourando seu cartucho.

XI

Maragato ou Ximango

Nunca quis ser entreguista

Foi sempre integralista

Quem era pinto e foi frango

Preferiu o xote ao tango

Bicou esporeou e fez calo

Não se esmoreceu no abalo

Qual farrapo ou farroupilha

E pra unificar a família

Viveu e morreu como galo

XII

Entendo porque o gaúcho

Não larga sua bombacha

A história nela se acha

No furo de algum cartucho

Pois a ele deu-se o luxo

De brigar esfarrapado

Lutou sem ser derrotado

Pelo seu torrão azul

Pra ver Rio Grande do Sul

Ser do Brasil um Estado.